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Os amigos da “onça”

Só que aproveitando a onda revolucionária, instalada no país, com o 25 de Abril de 1974, pensou realizar uma conveniente “pirueta”, ou seja, colaborar com a onda comunista que, naquela altura, varria o país. E se assim o pensou, rapidamente o fez filiando-se num dos partidos, à esquerda do “PS”, que albergava figuras que iriam disseminar-se, mais tarde, nas fileiras de outros: o “MES” (Movimento de Esquerda Socialista), a que pertenciam vários intelectuais da época. Tornando-se num grande “amigo” (?) dos trabalhadores e sempre disposto a ajudá-los nas suas lutas sindicais, incitando-os às greves e plenários, mas sem perder de vista as eventuais vantagens que, daí, poderiam advir.

De tão “amigo” (?), que se mostrava da classe operária, que passou de inimigo (capitalista) a benemérito da mesma. Então, quando se tratava de escorraçar os patrões das fábricas, lá estava ele, no meio do operariado a dar-lhe uma mãozinha. O que se veio a verificar em algumas unidades fabris – sobretudo aqui do Norte – sempre que os empresários eram escorraçados à pedrada e aos insultos por serem considerados exploradores do povo. É que assim, colaborando com a nobre missão da esquerda em acabar com os ricos, não era incomodado por ser um deles.

Ora, uma vez o empresário fora da fábrica esta entrava em autogestão. Sendo nomeada uma comissão de trabalhadores – de cujos elementos todos queriam mandar, exceto trabalhar. E de tal forma era a rebaldaria que passava a não haver quem pactuasse com aquele estado de coisas, enquanto o dinheiro se esfumava num ápice.

Exceto o camarada Jó Mané que logo se predispunha a entrar com capital fresco, desde que a mercadoria lhe fosse vendida por menos de metade do preço. E ao acenar-lhes com as notinhas – prontinhas a serem usadas – a que não resistiam, lá acabavam por ceder, uma vez que era necessário pagar os salários ao pessoal. Depois, com os lotes vazios e sem crédito dos bancos para aquisição de matérias-primas para laborar, a empresa acabava por lhes estoirar nas mãos, falindo.

“Amigos” (?), como o que acabo de descrever, é o que mais vai havendo por aí. Metidos em tudo quanto possa ser fonte de dividendos, quer em empresas e instituições, travestidos de “amigalhaços” do povo, da democracia e da liberdade. Ai se os extratos das contas nos bancos suíços e os relatórios dos paraísos fiscais falassem, saberíamos onde pára o dinheiro que faltou em determinados bancos do país; de parte dos fundos que a Europa nos atribuiu ao longo destes anos todos; das negociatas, como agentes infiltrados nas obras públicas, de onde vão obtendo chorudas luvas de favor. Um enriquecimento ilícito de que quase já ninguém fala.

Há dias, quando via na “RTP Memória” o programa “Guarda Factos” fiquei a pensar na maior “cambalhota” ideológica, do século XX, dada pelo povo português, após a “revolução dos cravos”. Ao serem exibidas as imagens da chegada do paquete Santa Maria – a Lisboa – desviado por terroristas (mais tarde heróis) em que milhares de portugueses davam vivas e hossanas ao ditador; como também as do seu funeral em que um mar de gente lá afluiu, comovida, para dele se despedir. Será que essas multidões se evaporaram, ou arranjaram novos “amigos”?

Por falar em “cambalhota”, já aparcam Mercedes e outras viaturas de luxo nas imediações da “Festa do Avante”, a julgar pelos porta-chaves achados dentro do recinto. Seriam de proletários presentes ou de alguns “burgueses”, recém-filiados, como o tal amigo da “onça”?


Autor: Narciso Mendes
DM

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16 janeiro 2017