Dizia Albert Einstein (físico alemão de origem hebraica, autor da Teoria da Relatividade — 1879/1955) que o mundo é um lugar perigoso de viver não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa daqueles que o observam e deixam o mal acontecer; e acrescento eu: mormente, por causa daqueles que, possuindo o poder económico e militar, dele se servem para promover o mal.
Por isso, até que me provem o contrário, tenho da ONU (Organização das Nações Unidas) uma opinião assaz crítica e, até, depreciativa; o que me leva a pensar que, afinal, não passa, de um verbo-de-encher, sobretudo no que respeita às resoluções que não toma sobre os atropelos mundiais ao direito à liberdade e igualdade de todos os povos.
Daí que, frequentemente, vemos governantes de certos países negando aos seus cidadãos o acesso aos direitos fundamentais à saúde, educação, justiça e equidade; e, para o conseguirem, recorrem à repressão, à prisão, à tortura e à morte daqueles que, pelo livre pensamento e ação, se lhes opõem.
Ora, a ONU, constituída por 193 membros, tem a representatividade e legitimidade necessárias para a resolução destes problemas mundiais; e, como tal, devia assumir um papel determinante face aos atentados económicos, sociais, culturais e humanitários que afligem a humanidade, na defesa e imposição da paz contra a constante e arbitrária realidade da guerra. Depois, igualmente, até que me provem o contrário, não aceito e considero mesmo uma verdadeira aberração, que haja membros da Organização com direito a veto sobre as resoluções que maioritariamente são votadas; e, quantas vezes, porque são estes membros os primeiros a apoiarem países onde é ignorada e menosprezada a Declaração Universal dos Direitos Humanos e, consequentemente, onde imperam a violência, a intolerância, a fome e a miséria sobre populações indefesas, levadas a cabo por ditaduras execráveis.
(Entre parêntesis, vi com muita satisfação e esperança a eleição de António Guterres para secretário-geral das Nações Unidas, pelas provas já dadas de acérrimo defensor dos Direitos Humanos Universais; só que, ao mesmo tempo, temo não ser possível que consiga mudar o funcionamento, rumo e pensar da Organização a que preside, enquanto esses países mantiverem o direito de veto e, assim, continuarem a usá-lo frequentemente de forma arbitrária e negativa, com evidente desprezo pelos povos que sofrem às mãos sanguinárias de ditadores implacáveis).
Mas, vamos a factos. Há dias, sobre a guerra devastadora e cruel que grassa na Síria, a Assembleia-Geral da ONU votou por unanimidade um cessar-fogo; todavia, no dia seguinte a tal resolução, as bombas continuaram a cair e, até, com maior intensidade sobre a região de Ghouta.
E porquê? Simplesmente porque a Rússia, uma das potências que detém o direito de veto, ignorou a votação efetuada, não fosse uma aliada fiel do regime de Bashar al Assad; e, assim, continua a colaborar na martirização e matança de civis inocentes, sobretudo mulheres e crianças, chegando mesmo a usar armas químicas proibidas pelo Direito Internacional, como, por exemplo, bombas de gás de cloro.
Ora, numa ação de despudorada e iníqua encenação de trégua, a Rússia, em alternativa ao cessar-fogo, decretou o que classifica de pausa humanitária das 9 às 14 horas para auxílio, diz, aos feridos, reabastecimento de bens essenciais à população flagelada e sobretudo recolha e funeral dos milhares de mortos que se amontoam pelas ruas e escombros; e, após estas breves cinco horas de tréguas, se sucedem longas 19 horas de angústia, bombardeamentos e mortes.
Agora, digam-me lá se tenho ou não razão em colher da ONU, até que me provem o contrário, uma imagem crítica e depreciativa; e se tenho ou não razão em não aceitar o direito de veto de alguns membros da Organização que, assim, se transformam em polícias; às vezes maus polícias, da Ordem Internacional; como igualmente em comungar da opinião de Albert Einstein quando considera que o perigo do mundo não vem daqueles que fazem o mal, mas daqueles que o observam e o deixam acontecer.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
ONU: Até que me provem o contrário

DM
7 março 2018