O amor sincero é o único sentimento capaz de dinamizar as verdadeiras relações humanas. Falsos conceitos de amor e sobretudo práticas distorcidas na sua vivência levam ao ódio e à falta de respeito pela dignidade humana. Onde não houver verdade, não pode haver um amor sério e permanente. A mentira, a cobardia, a desonestidade e o oportunismo não podem conviver com o amor. São incompatíveis com ele porque violam a essência da natureza humana e das autênticas relações humanas.
O verdadeiro amor é a única força capaz de ativar as energias vitais do homem e de dar uma revitalização das potencialidades da sua própria natureza. Trata-se de uma exigência do ser humano. Só o amor verdadeiro implica a capacidade e a disposição de se fazerem os maiores sacrifícios em benefício dos outros. No entanto, esses sacrifícios serão compensados em plenitude. Aliás, a Igreja está a atravessar uma quadra litúrgica que é o expoente máximo desta vivência: A Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Esta exigência ética do amor nas relações entre os homens implica um ideal da humanidade sem ódios e sem inimigos, do qual fazem parte, impreterivelmente, o perdão e a reconciliação. Na caridade humana não há lugar para a intrujice, para o vilipêndio, para a vingança, para a violência, para a injustiça, para a agressão, para a xenofobia e para o abandono ou para o desprezo dos outros. Muitas comunidades e, sobretudo, muitos responsáveis governativos assistem, impávidos e serenos, às grandes catástrofes humanas por esse mundo fora, pouco fazendo para as minimizar, como o exige o amor autenticamente solidário. Sem esquecer as guerras regionais e as atrocidades cometidas por esse mundo fora, veja-se o que se passa com o terrorismo gratuito e indiscriminado que nem sequer respeita pessoas inocentes. Onde está a democracia? Onde mora o respeito pela dignidade humana? Por todo o lado, há debates sobre a violência doméstica e esta não para de acontecer todos os dias, mesmo com requinte de desumanidade. Realizam-se fóruns acerca dos direitos das crianças, criam-se mais umas tantas comissões para a sua proteção e, no entanto, os maus-tratos, as violações e os atos de pedofilia continuam a proliferar.
Onde escasseia o autêntico amor ao próximo não se pode esperar uma justiça social duradoira. Não podemos esquecer que o amor deve ser a libertação de todo o mal ou de tudo aquilo que não queremos para nós. O primado do amor ressalta da comparação com os outros valores, carismas ou virtudes, mas, sobretudo, pelo dinamismo específico que proporciona a toda a existência humana e que permanece na perfeição escatológica. Este alto valor da existência humana não se esgota apenas nas formas de um simples amor fraterno, mas encerra sobretudo a experiência do amor de Deus. S. Paulo procura mostrar cabalmente como o amor ao próximo é uma consequência intrínseca do amor de Deus.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes