A terra por onde andamos, o solo que fica por debaixo de nós, é o nosso substrato, a génese e o destino de todos, como resumem as palavras sagradas. Andamos tão distraídos de um lado para o outro que quase nunca lhe damos a importância que merece. Já as plantas, avessas a caminhadas, são mais atentas ao que lhes fica por baixo: lançam as raízes lá para a escuridão e deixam-se ficar muito quietinhas, a crescer devagar. A terra serve-lhes de suporte, dá-lhes os ingredientes das refeições e mata-lhes a sede.
O solo é um sistema vivo, onde as matérias minerais e orgânicas, coexistem com a água, o ar, os microorganismos e fauna e flora diversificadas. A composição do solo influencia, sobremaneira, as suas propriedades físicas e químicas (estrutura, textura, acidez, etc.), condições que, aliadas aos factores climáticos, sobretudo a temperatura e pluviosidade, determinam o tipo de plantas que ali se podem desenvolver com sucesso.
No que respeita à disponibilidade de água no solo, os especialistas costumam considerar uma diversidade de conceitos importantes, para cálculo das necessidades de rega das diferentes culturas agrícolas. Um destes conceitos é a “capacidade de campo”, que podemos definir como a quantidade de água que um solo pode armazenar, depois de rega ou chuva intensas, e de se ter verificado a subsequente drenagem natural por efeito da gravidade. Em regra, para evitar distorção dos valores em resultado da alteração da estrutura do solo, a capacidade de campo é medida in situ e não em laboratório. Os solos com textura mais fina (argilosos) revelam uma maior capacidade de armazenamento de água, quando comparados com solos de textura mais grosseira ou arenosa. Um outro conceito muito importante é o “coeficiente de emurchecimento”, o qual traduz a quantidade de água do solo que as plantas não conseguem utilizar, em resultado de a força com que a água está adsorvida às pequenas partículas do solo ser superior à força de “sucção” das raízes. À semelhança da capacidade de campo, também o coeficiente de emurchecimento varia com a textura do solo, verificando-se ser menor nos solos arenosos e maior nos solos argilosos. Simplificadamente, podemos dizer que a água utilizável pelas plantas corresponde à diferença entre a capacidade de campo e o coeficiente de emurchecimento.
Neste período de seca que atravessamos, por defeito de formação, vou-me perdendo a observar a diversidade de reacções das plantas à crescente falta de água nos terrenos.
Para me deixar disto e esquecer estas conversas técnicas, fazia-me jeito um daqueles dias de chuva que me obrigasse a ficar em casa, à janela, certamente mais feliz que nostálgica.
Autor: Fernanda Lobo Gonçalves
Olhar para o chão
DM
19 novembro 2017