A epidemia causada pelo novo coronavírus tem efeitos nocivos diversos e graves. Alguns países, como foi o caso de Itália, têm sofrido as consequências de um olhar pouco atento para o problema. Não são só os efeitos que a doença Covid-19 causa na saúde dos infetados, existem outros resultados ou consequências que provocam riscos elevados de saúde pública, efeitos económicos e, também, sociais. O desporto é uma área que vai sofrer fortíssimos danos e, se não forem tomadas medidas drásticas, será um terreno ideal para redes de contacto e disseminação da doença. Este foco contagioso que está a invadir todo o mundo e, de certa forma colocou a nu, para além de alguma falta de coragem, muitas fragilidades institucionais e organizacionais. Eu não posso aceitar que justifiquem a grandeza deste problema com efeitos nocivos maiores de outras doenças. A partir do momento em que há uma morte que poderia ser evitada a partir de medidas de prevenção, valerão a pena todas as medidas que o evitem. Mas, na realidade, o Desporto e as instituições que o regulam sofreram e sofrem pressões entre o que é razoável, como uma medida preventiva, ou uma medida que em mascara o problema e não tem efeitos efetivos na resolução dos problemas. A gravidade desta doença deveria ser tratada, com a coragem que exige, e desde da primeira instância, com medidas concertadas e estruturadas, mas infelizmente, continua e anda à boleia de opiniões, de decisões avulsas de diversos organismos, o que eleva, de sobremaneira, o caos, a histeria, a especulação e a gravidade do problema. Portugal teve tempo para tomar medidas, tendo por base a infelicidade de outros países, mas os nossos organismos decidiram atuar separadamente, o que reduz as consequências dessas medidas e não corta com o efeito expansivo do contágio do vírus. Pessoalmente, não domino muitas das questões técnicas da doença, no entanto, todos os dias sou confrontado pela descoordenação das medidas e pelo efeito “cogumelo” das decisões. Cada um decide por si, dentro da sua bolha, e alguns fazem o que podem, mas com pouca coordenação, globalidade na ação e sintonia institucional. Por exemplo, não tem lógica adiar as competições jovens e manter ativas, mesmo que à porta fechada, as competições seniores, com deslocações entre regiões e a possibilidade de alargamento do contágio. Não tem lógica encerrar espaços desportivos e manter a competição das equipas, mesmo que à porta fechada, porque as equipas não têm condição de treinar, e, mais grave, se treinarem incorrem num dos maiores erros, que é criar contacto, movimento e possibilidade de disseminação da doença, pois estes atletas não vivem numa redoma, têm outro tipo de contactos sociais fora do espaço desportivo que poderão acarretar riscos. Não tem sentido que uma Camara Municipal feche as piscinas, pavilhões ou outros espaços desportivos e as Escolas mantenham a sua utilização. Não tem fundamento nenhum que se decida fechar escolas e que reação seja: “o que eles querem é mais férias!...”. Não tem lógica que se jogue à porta fechada e os adeptos se reúnam no exterior para apoiar a sua equipa. Não tem lógica que uma Escola/Universidade feche as instalações e os alunos se juntem nos bares, nos centros comerciais e nos cafés. A atitude perante um cenário epidémico é circunscrever e conter a propagação através de uma atitude firme, ações coordenadas, respeito pelas normas, solidariedade, civismo e confiança. O desporto é uma área propensa para a difusão desta doença, se não foram tomadas medidas sérias, firmes e rigorosas. Todos, independentemente da modalidade, federação ou opinião, nesta matéria, devem entender o efeito e a vantagem do trabalho em equipa. O respeito pela nossa saúde e saúde pública é urgente e, neste caso, vital.
Autor: Carlos Dias