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O vírus democrático e o 24 de abril

A esquerda mais complexada quer tornar ideológica a atual discussão sobre as comemorações previstas do 25 de Abril.

Urge recordar aqui também o pensamento político de Sá Carneiro, quando afirmava, magistralmente, em 1976, no Vimieiro: “Acima da Social-Democracia, a Democracia, acima da Democracia, o Povo Português!”.

Assim, o interesse do povo pode exigir que o dia da Democracia seja festejado de maneira ainda mais estrita que a prevista e mais consentânea com a tragédia atual.

Até é legitimo que haja quem entenda adequação no atual modelo de comemoração do 25 de Abril. O que não se pode aceitar é que se façam juízos de intenção ilegítimos contra quem pensa exatamente o contrário.

Os representantes da esquerda conservadora, como Ferro Rodrigues, Manuel Alegre e outros, pretendem fazer crer, com muito pouco sentido democrático, que quem está contra o modelo das atuais comemorações, é contra o 25 de Abril ou contra a sua comemoração. Nada mais errado!

Atitude contrastante, de aplaudir, é o da Associação de Capitães do 25 de Abril ou do socialista João Soares que também entendem que o dia da revolução deve ser comemorado este ano em moldes diferentes.

Aliás o parcial, partidário e complexado Presidente da Assembleia da República, tem feito péssimas prestações pela maneira como interfere no conteúdo das intervenções dos deputados, sejam eles quais forem, como se fosse o dono do regime democrático ou do Parlamento.

Ferro Rodrigues – que deixou uma imaginem positiva como Ministro – deve ser dos Presidentes da Assembleia que menos unanimidade conseguiu entre os portugueses e com atitudes mais consentâneas com o 24 de abril.

Falta-lhe bom senso, classe, sentido democrático. É triste que uma personagem assim seja Presidente da Assembleia da República e a segunda figura na hierarquia do Estado.

Ferro Rodrigues é uma exceção à correta articulação no combate ao vírus que tem existido entre o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e partidos, com destaque para António Costa e Rui Rio.

Aliás, é muito mais consentâneo com o espírito do 25 de Abril a maneira como foi estabelecido o Estado de Emergência e o comportamento do povo português. Os portugueses, livremente e de acordo com as regras do Estado de Direito Democrático, aceitaram e cumpriram as atuais limitações. E isto é – mais do que tudo – o 25 de Abril!

Pelo contrário, comemorar o dia da Liberdade mesmo nestes diferentes termos, é mais próprio do 24 de Abril do que do 25, pela distância com o correto comportamento do povo e pela falta de sensibilidade com as pessoas que faleceram, com as doentes com um atroz sofrimento físico e mental, ou com as pessoas com as vidas esfrangalhadas e perda de entes queridos, sem uma despedida sequer.

Basta observar o aumento de alguns incautos nas ruas neste último fim de semana ensolarado, no seguimento de melhores notícias, para se perceber a grande falta de exemplo do Parlamento e no seu errado sinal público.

Cavaco Silva, sabiamente, estará ausente destas comemorações.

Em 2011 e perto da véspera eleitoral, não houve nenhuma cerimónia no Parlamento quase sem funções. Cavaco Silva organizou apenas uma sessão solene no Palácio de Belém com a intervenção de anteriores Presidentes da República, a par de outras comemorações no país. O 25 de Abril foi digno e unanimemente comemorado, mas também, em 2011 não tínhamos um Presidente submisso com a esquerda nem também, aliás, com a direita.

Hoje, teria um profundo significado se o Parlamento, democraticamente e pedagogicamente, desse o exemplo com comemorações mais adequadas com a tragédia nacional.

Espero que haja pelo menos o bom senso de alterar as cerimónias – que tanta rejeição têm no país – já que, infelizmente, não vejo como provável mudarmos hoje a figura pouco democrática do Presidente do Parlamento.


Autor: Joaquim Barbosa
DM

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22 abril 2020