Numa era que se iniciou sob os (maus) hospícios do radicalismo islâmico e num século sobre o qual André Malraux criou o célebre aforismo “O século XXI será espiritual. Ou não será.”, Erdogan escolheu a via islamita para concretizar e reforçar o seu projecto autocrata de poder, não só ao nível interno, como no plano regional e internacional.
Na sequência da estranha tentativa de golpe de estado de 15 de Julho de 2016, pôs de lado a democracia e as normas de direito e tratou de perseguir os seus opositores, prendendo e saneando, arbitrariamente, milhares de pessoas, encerrando órgãos de informação que lhe são adversos e propondo a reposição da pena de morte com aplicação retroactiva aos pretensos implicados naquele abortado golpe!
Para o efeito de legitimar essa sua estratégia de poder e de mudança de regime, Erdogan pretende promover um referendo interno, alargado aos vários milhões de turcos emigrados em vários países da Europa, a cujos órgãos soberanos, atrevidamente, reclama agora o poder e o “direito” de, por si ou através dos ministros do Governo do seu país, fazer propaganda em favor da presidencialização do regime e da sua própria eternização no poder. E atrevendo-se até a pedir-lhes a vigilância sobre cidadãos turcos que sejam suspeitos de lhe fazerem oposição.
Perante a oposição dos governos europeus, designadamente do alemão e do holandês, e das reacções negativas das opiniões públicas, o presidente turco não se coibiu de fazer ameaças várias aos países da União Europeia, entre as quais a denúncia dos acordos relativos à recepção de emigrantes e refugiados, pelos quais já recebeu em troca milhões e milhões de euros, e de apelar às famílias turcas emigradas em território europeu para terem 5 filhos cada!...
Sabendo-se, como se sabe, que a Europa passa por uma grave crise demográfica que, segundo estatísticas confiáveis, se traduzirá numa redução, em 2050, da população para cerca de 653 milhões de habitantes – o que representará 7% da população em toda a terra, quando, no início do século passado, a população europeia representava 25% da mundial – e que a população muçulmana, neste continente, passará de 43,5 milhões, em 2010, para 70,9 milhões, em 2050, ou seja, de 5,9% para 10,2% da totalidade dos habitantes europeus, intui-se o perigo que o Islão representará no seio do mundo cristão europeu.
Significa isto que, não podendo, por ora, bater os europeus no plano militar, o radicalismo islâmico aspira a levar de vencida o Ocidente no desafio estratégico da natalidade.
Posta assim a questão, torna-se claro que os países europeus têm de reagir de um modo enérgico e colectivo, abandonando tomadas de posição frouxas e individuais que até aqui os têm caracterizado. Daí que a resposta europeia que se impõe terá de ir buscar-se, com as devidas adaptações, a um episódio histórico que, oportuna e recentemente, vi citado por João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador, num artigo que publicou na sua página do Facebook, em 28 do corrente mês.
Pretendo referir-me à resposta que o Capitão António da Silveira, que chefiava os 600 portugueses que defendiam a Praça de Diu nos idos de 500, deu ao capitão turco, Soleimão Paxá, que sitiava a mesma praça com um exército de 23.000 homens e 70 galés e que pedia a rendição dos portugueses: “Fica a saber que aqui estão portugueses acostumados a matar muitos mouros e têm por capitão António da Silveira, que tem um par de tomates mais fortes que as balas dos teus canhões e que todos os portugueses aqui têm tomates e não temem quem não os tenha!”. (in “Crónica dos Feitos da Índia”, vol. IV, pág. 3436, de Gaspar Correia)
É, pois, altura de os europeus acordarem e mostrarem que, como os portugueses de 500, os têm no sítio e são capazes de ter tantos ou mais filhos que aqueles que Erdogan quer que cada família turca emigrada na Europa tenha.
Autor: António Brochado Pedras