Ser treinador é uma tarefa árdua, não é só optar pelos melhores elementos, nem é tão simplista como concorrer a jogos de jornal, mandar uns “bitaites” na TV, na bancada ou no sofá. As situações pressionantes, decorrentes do dia a dia, da imprensa, do grupo, dos não utilizados, dos suplentes, dos dirigentes, dos sócios, dos adversários, das próprias famílias transporta o trabalho de um treinador para patamares muito complexos, que só os vivenciando é que podemos perceber o que isso representa.
A arte de treinar não é um jogo, mas passa por um “jogo” de negociações e compromissos em que a palavra dada conta, em que todas as partes se sentem “obrigados” a cumprir e honrar. O “jogo” passa por descobrir o caminho do crescimento. Cada jogador é uma individualidade, com defeitos e aspirações, com bons e maus momentos, com reações e com razões. Jogar em equipa não é reproduzir esquemas táticos monocórdicos.
Uma equipa é um todo, em que todos têm um papel, que não deve apenas ser apenas de adição, mas claramente enriquecer as potencialidades de todos os elementos que compõem a equipa. Uma equipa é mais do que a soma das partes.
Não tenho dúvidas que a intensidade e a profundidade na preparação das equipas ao mais alto nível exigem que, quer os treinadores, quer os atletas e também os seus dirigentes, se entreguem às suas tarefas com grande determinação, disciplina, tempo, organização e respeito pelo trabalho (neste campo os exemplos oferecidos pelos responsáveis que dirigem as estruturas desportivas, são demasiado deploráveis e constituem os maiores entraves a um trabalho sólido de formação desportiva).
Em vez do divisionismo deve prevalecer o contributo. Ser treinador significa ser agente de mudança, de transformação. No desporto, ser treinador terá que ser uma vocação, uma paixão. Não se esgota apenas nas áreas de gestão de um grupo, no domínio de habilidades de organização do treino e na preparação das competições, e não se pode encerrar tudo num número de vitórias ou derrotas. Quando se perde, não pode ser só o treinador o alvo a abater.
Hoje, a equipa de trabalho é demasiado alargada para se confinar a responsabilidade, apenas, a um só elemento (o treinador). Não é justo, porque quando as equipas ganham, até se acotovelam para entrar na fotografia e assumir os louros.
Autor: Carlos Dias