Há muita gente que vive martirizada com o hipotético mal que poderá enfrentar no futuro. Um dos primeiros comportamentos que as pessoas têm que saber gerir é o sofrimento antecipado por factos que ainda não aconteceram e, muito provavelmente, até nunca acontecerão. Estes estados de melancolia e de angústia constantes acabam por provocar um grande e inútil desgaste cerebral que pode perdurar indefinidamente.
A mente humana é uma fábrica permanente de construção de pensamentos, tanto dialéticos/lógicos, como antidialéticos/imaginários. Pensar não é uma mera opção do nosso Eu. É um processo intrínseco inevitável, visto que o homem é um ser pensante. Se o Eu não souber aceder à memória ou não produzir cadeias de pensamentos conscientes corretos, pode incorrer no risco de ser metralhado por fenómenos inadequados e perturbadores da sua personalidade e do seu bem-estar diário.
Os fenómenos inconscientes que leem a memória podem perder a sua função adequada e causar desastres emocionais, se não tiverem como suporte um autodomínio regulador. O autofluxo dos nossos fenómenos psíquicos desempenha funções que se podem comparar às de um copiloto, ajudando a dirigir a aeronave mental. Os fenómenos mentais podem, no entanto, perder a sua função normal e vir a causar grandes desastres emocionais. Quando há um estímulo excessivo de informação não selecionada podem tornar-se numa fonte de ansiedade e de angústia.
Hoje em dia, muitas crianças e muitos adolescentes sofrem por antecipação, acordam cansados, têm dores musculares ou de cabeça, além de um significativo défice de memória. O seu cérebro passa por muitos períodos de esgotamento por causa de uma overdose destes fenómenos psíquicos descontrolados. Sabem manobrar os computadores, os telemóveis e os tablets, como ninguém.
Muitas vezes, são até considerados como uns génios nestas matérias. Só que, devido ao desgaste cerebral contínuo, muitos destes pseudogénios acabam por dar lugar a jovens impacientes, irritadiços, inquietos e especialistas em reclamar, querendo tudo rápido para eles, mesmo que tal ultrapasse os outros.
Para neutralizar esta ansiedade que se abate sobre essas crianças e adolescentes, os seus pais e os seus educadores devem envolvê-los mais em divertimentos variados, investir no diálogo fora das redes sociais e em atividades lúdicas diferentes, tais como, escrever, ler, pintar, tocar instrumentos, praticar desporto e fazer coleções. Caso contrário, acabam por arrastar os referidos estados de espírito inadequados pela vida fora. Assim, uma vez adultos, acabam por solidificar as referidas situações mórbidas de sofrimento por antecipação, em vez de as superar.
Apresentam mentes preocupadas, parecendo carregar o seu corpo, como um fardo pesadíssimo, vivendo cansados, tensos e irritadíssimos. Sofrer por antecipação, excessiva e desnecessariamente, torna-se numa autoagressão torturante e angustiante.
O princípio da gestão das nossas emoções está no treino adequado da própria mente para comandar os nossos pensamentos, confrontá-los e, muitas vezes, até impugná-los no silêncio mental. Pensar é bom, mas sem uma boa gestão é uma bomba corrosiva da saúde mental.
Não há nada que os homens devam guardar zelosa e continuamente como é a própria vida. No entanto, não devemos entregar-nos a esta relevante tarefa com um fim meramente egoísta e pungente, pois então estaremos predestinados a um profundo e irreversível fracasso existencial.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes