“Junto à cruz de Jesus estavam, de pé,
Maria, sua mãe, Maria, a mulher de Cleopas
e Maria Madalena” (João 19-25). “Não tenhais medo.
Sei que buscais jesus, o crucificado” (Mateus, 28,5).
No passado dia 10 de outubro foi aberto, formalmente, o Sínodo dos bispos, com um processo de dois anos, (desde 10.10-2021 até 10.10-2023), a realizar em três fases: diocesano, continental e mundial. Tem por tema essencial: “por uma igreja sinodal : Comunhão, Participação e Missão”.
“Permitir que todos participem é um dever eclesial fundamental”, disse o Papa Francisco durante a reflexão, no Vaticano, na véspera de abertura do Sínodo, acrescentando que “não é necessário criar outra Igreja, mas sim criar uma Igreja diferente”. Existe a expetativa de que o maior número de fiéis participem no processo e sejam ouvidos sobre o futuro da Igreja.
Também D. Jorge Ortiga, na eucaristia do dia 2 de novembro, na Sé Catedral, declarou que “entramos num período especial para a Igreja. O itinerário sinodal não vai pretender somente alterações estruturais ou mudanças administrativas. Fundamental é que cada um – depois em grupo – se coloque à escuta do que o Espírito Santo quer dizer à Igreja. Acredito, seriamente, que tudo vai começar pelo interior, caso contrário provocar-se-ão divisões”. (cf. DM, de 03.11. 21).
Afigura-se, portanto, que a discussão não deve fugir aos temas polémicos, como, por exemplo, sobre uma maior participação feminina na tomada de decisões da Igreja e a sua integração no ministério sagrado. É este tema que pretendo abordar, ainda que sumariamente, na defesa do acesso feminino ao diaconado.
Na minha juventude, a distribuição das pessoas no espaço da igreja fazia-se: homens à frente e mulheres e crianças atrás. A missa era celebrada em latim, com o padre de costas para os fiéis. As mulheres limpavam a igreja e asseavam os altares. Algumas ensinavam a doutrina às crianças. Após o Concílio Vaticano II, a participação das mulheres na vida da Igreja modificou-se um pouco, mas está longe de corresponder aos ensinamentos dos Evangelhos.
Do relato histórico dos Evangelhos resulta que as mulheres desempenharam um papel absolutamente essencial no ministério de Jesus. Foram elas que viram o túmulo vazio e foram elas que viram o Jesus ressuscitado e foram avisar os discípulos.
O acesso ao diaconado foi uma prática frequente nos primórdios da vida cristã. Com efeito, há referências a diaconisas já na era apostólica (cf. Rom. 16,1 e Tim. 3,11). Não obstante esta prática inicial do cristianismo, a História Eclesiástica revela-nos a existência de normas sobre as diaconisas no séc. II, função apenas destinada a mulheres solteiras ou viúvas. O Concílio Vaticano II, perante a escassez de sacerdotes, procedeu à revisão da estrutura da ação apostólica da Igreja e restaurou o diaconado, nos termos da Igreja primitiva, mas apenas em relação aos homens, não abrangendo as mulheres.
Os motivos que determinaram a restauração do diaconado masculino foi a falta de sacerdotes e sua libertação dos cargos de administração burocrática ou temporal, permitindo-lhes consagrar mais tempo à vida litúrgica e ao estudo. Tais motivos deviam ser válidos para a restauração do diaconado feminino, na sequência da tradição inicial.
Em 2021, em relação ao papel das mulheres na liturgia, mediante um “motu proprio”, o Papa Francisco modificou o canone 230 & 1, do Código do Direito Canónico, sobre o acesso das mulheres ao ministério do leitorado e do acolitado, o que é manifestamente pouco.
Conclusão
Postos estes fundamentos, seria importante que a arquidiocese de Braga, nesta primeira fase do Sínodo, apresentasse, nas suas conclusões, a necessidade da restauração do diaconado feminino.
Autor: Narciso Machado