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O que Rui Rio terá de fazer

Dizia Winston Churchill (político e escritor inglês, 1874-1965) que nunca a oposição ganhava eleições, era sempre o governo a perdê-las; mas pelo que está a acontecer na atual situação política do país, dificilmente o governo de António Costa perderá as próximas eleições; e, então, o PSD (Partido Social Democrata) continuará a ser oposição. Frequentemente as sondagens (que valem o que valem, é certo) dão o Partido Socialista (PS) a subir nas intenções de voto do eleitorado; e acontece não à custa da descida dos parceiros de governação Bloco de Esquerda (BE) e do Partido Comunista Português (PCP), mas do PSD e do Centro Democrático Social (CDS); e a situação não parece capaz de se inverter ou mesmo abrandar. O governo e, consequentemente, os parceiros que o apoiam e sustentam, mesmo que insatisfeitos com as conquistas sociais alcançadas, beneficiou de uma conjuntura económico-financeira internacional favorável e, igualmente, de fatores internos tais como: aumento das exportações e do turismo, descida do desemprego e do défice e ligeiro crescimento económico, embora sem garantias de sustentabilidade, nestes primeiros anos de legislatura; e este facto, mesmo que ilusório, reforça o bom momento que o país atravessa e dá ao governo, para 2019, perspetivas ganhadoras. Dissemos que é um facto ilusório, pois o país mantém urna dívida monstruosa, atravessa um surto constante de greves, pratica uma política financeira de cativações, de precariedade laboral e de baixos salários e o poder de compra não aumenta; enfim, uma política governativa negativa para o povo. Depois se está à vista que a ilusória melhoria não acontece por mérito do governo ela, até, se vai mantendo por demérito da oposição; pois, Passos Coelho nunca se resignou ao facto consumado de, embora tendo ganhado as eleições, não formar governo e sempre se convenceu de que, a breve prazo, teria, como aconteceu, de abandonar a liderança do partido. Pois bem, a escolha de Rui Rio para líder do PSD fez recrudescer as esperanças de uma oposição musculada e construtiva à governação da geringonça; só que o tempo vai passando e o grupo parlamentar do partido não mostra a unidade e dinâmica de que Rui Rio necessita para construir uma alternativa ganhadora a António Costa para as legislativas que se avizinham, mesmo que antecipadas; e, para além deste constrangimento, Rio tem ainda de enfrentar a união das esquerdas, bem como a truculência e exigência do Presidente Marcelo, que reclama um governo, tal como uma oposição, forte e obreiro. Todavia, o maior problema para Rui Rio é, sem dúvida, ter de acalmar a agitação interna do seu partido, onde os jovens turcos exigem contrapartidas e poder e não se conformam com o ostracismo a que estão sendo sujeitos; ademais, tem de ter sempre em conta o que, a propósito do Parlamento, dizia Churchill: na outra bancada sentam-se os nossos adversários, nesta, os nossos inimigos. Pois bem, o que Rui Rio terá de fazer para relançar o partido é; cativar os jovens que não votam, atrair os eleitores que nas últimas legislativas desviaram o seu voto para o PS e para CDS como os que votaram branco ou se abstiveram; e avançar já com um pacote de reformas estruturais para a Saúde, a Educação, a Segurança Social, a Justiça, a Administração Pública e a revisão da Constituição, e que a geringonça tem ignorado; e, sobretudo, não alimentar a ideia de um Bloco Central que, a existir, daria oportunidade aos extremismos e populismos políticos de se evidenciarem e deixarem o país sem alternativa governativa. Agora, sendo Rui Rio um homem do Norte, faz sentido recordar Sá Carneiro e a criação da Aliança Democrática (AD), em 1979, constituída pelo PPD/PSD, pelo CDS e pelo PPM; e esta Aliança Democrática acontece num momento político do país, muito semelhante ao atual, em que a hegemonia assentava nas esquerdas; e, então, com a dinâmica que imprimiu ao eleitorado, a AD saiu vencedora das eleições, no ano seguinte, e com maioria absoluta; e só a morte de Sá Carneiro em Dezembro de 1980 veio ditar o seu fim que ocorre em 1983. Quem sabe se pela cabeça de Rui Rio não passou já a ideia de reabilitar o projeto de Sá Carneiro contra a união das esquerdas que engendrou a geringonça tão-só para afastar a Direita do poder; e a que, naturalmente, chamaria AD, embora não Aliança Democrática, mas Aliança de Direita, designação mais adaptada aos tempos presentes. Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado
DM

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28 março 2018