Diz o povo e com razão que os gostos não se discutem. Pois, segundo a filosofia do meu caro amigo Zé Manel Carneiro, ‘expert’ em folclore minhoto, “não há um conceito definido de beleza, uma vez que o feio para uns é bonito para outros e vice-versa”. No entanto, por manifestar a minha opinião, sobre o que fere, ou não, a minha sensibilidade visual, penso não ficar identificado com os ‘bota-abaixo’ nos registos camarários. E porquê? Porque, pelos vistos, não sou o único a dar um sinal menos à recente estatuária implantada na nossa bela cidade.
Com efeito, só depois de ir ouvindo os comentários, de quem por ali passa, ao monumento dedicado a D. Diogo de Sousa – cuja arte não discuto – decidi tecer algumas considerações sobre cada uma das recentes obras que se dizem de preito e homenagem aos que contribuíram para o engrandecimento da nossa cidade dos Arcebispos.
Não, sem antes dizer que se em vez do conceito da ‘porta aberta’ ali tivesse sido erigida uma estátua, do vulto do Prelado, ela deveria ficar de costas voltadas para todo aquele vómito de requalificação do Campo da Vinha. E porquê? Porque em nada dignifica a visão que o insigne Arcebispo dedicou à cidade por ele deixada, de modo que as nossas edilidades a melhorassem e embelezassem. É que como está, nem o Conde de Agrolongo, que deu o nome à praça, caso vivo fosse, se sentiria honrado.
Depois, como católico, confesso não admirar nada aquela engenharia de equilíbrio – de lata sobre lata —, sem classe nem beleza. Um memorial desprovido de sentido e, até, das ‘insígnias’ do Prelado bracarense. Em que as palavras, nele escritas, precisaram de um ‘apêndice informativo’. Pois, tal como afirmou o senhor Cónego José Paulo Abreu, “a arte é evangelização, é pastoral, é púlpito, é história e cultura”. E ainda que se trate de uma figura da Igreja Católica, foi ele o senhor de Braga que a rasgou, lhe deu alma e formosura em remotos tempos de muita menos literacia, condições técnicas e pecuniárias.
Ora, o início da ‘arte latoeira’ em Braga já havia começado com o resplandecente cilindro – instalado na rotunda do Pópulo – comemorativo da ‘revolução dos cravos’ e da figura de um político que se movimentou nas esferas da oposição ao antigo regime. Mais uma técnica de ligação entre chapas (aos quadradinhos). O que pelo seu ar e caráter nos dá uma esperança de ser provisório, logo que haja alguém de bom-gosto que se proponha executar a mesma homenagem, mas de uma forma mais consentânea com a mensagem de abril que foi a de fazermos melhor arte do que aquela que os nossos antepassados foram capazes. Numa altura, em que escasseavam as Universidades e em que a maioria dos artistas, quer na escultura, pintura, etc., eram talentosos autodidatas. Portanto, algo de admirável e duradouro que melhor se enquadre no Centro Histórico bracarense.
De enfiada, veio a figura do Imperador Júlio César, qual comandante dos Bombeiros Voluntários da Augusta cidade dos brácaros, cujo colorido nos faz lembrar as imagens do interior das Igrejas. Só que ele, que se conste na história de Roma, não foi nenhum ‘santinho’, devido às arenas romanas em cujos cristãos foram atirados às garras das feras, morrendo por se recusarem renegar a sua fé. No entanto, foi graças a ele que a cidade nasceu. E até estou de acordo que o boneco é giro, mas para ser ostentado numa das capelas do Bom Jesus do Monte, ‘Património da Humanidade’ para que conste.
No momento seguinte surgiu a réplica da imagem de S. João, instalada na rotunda da Ponte, cuja arte não aprecio, a qual em termos de semelhança com o Santo, fica bem mais atrás de qualquer dos trabalhos sanjoaninos saídos da olaria da saudosa artesã Rosa Ramalho.
Daí, os meus olhos dizerem —após terem visto estes espécimes monumentais sobre as quais nem os meus ouvidos escutaram as desejadas loas — que não gostaram de tais ‘prendas’ ao velho burgo bracarense. Lamento, mas isto foi o que me disserem estes olhos que Deus me deu.
Autor: Narciso Mendes
“O QUE DIZEM OS MEUS OLHOS”

DM
12 julho 2021