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Quem não recorda épocas em que populações inteiras se congregavam nas igrejas? Os olhos das pessoas estavam fixos no pregador, não no relógio. Ouvir um padre sermonar não era um fardo para suportar; era um deleite para saborear.
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Houve quem – como São Vicente Ferrer – se alongasse em homilias de seis horas. E, não obstante, parece que tudo parava quando o pregador surgia. Até as lojas fechavam e as próprias audiências nos tribunais eram suspensas.
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Hoje em dia, os templos – para muitos – tornaram-se lugares mais de passagem do que de paragem. Daí que uma homilia que se estenda por mais de dez minutos seja depreciada como (insuportavelmente) «longa».
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As horas que se investiam à volta do «púlpito» começaram a ser transferidas para o «ecrã». Até nas igrejas há quem puxe mais facilmente por um «smartphone» do que por um terço. Até nas igrejas há quem esteja mais conectado com o mundo do que ligado a Deus.
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Acresceque, enquanto o «púlpito» era habitado pelo eterno, o «ecrã» é dominado pelo efémero. O critério deixou de ser a mensagem. O principal filtro passou a estar nas audiências. São elas que decidem não só o mais visto e o mais popular, mas também o certo e o errado, o inocente e o culpado.
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No limite, é pelo meridiano das audiências que se define a «virtude» e o «pecado». Qualquer suspeita vertida nas redes arrisca-se a ter mais crédito que a maior verdade proclamada no altar. Pouco faltará para que, como vaticinou Chesterton, sejamos «criticados por dizer que 2 e 2 são 4, que um triângulo tem três lados ou que a relva é verde».
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É pelo «ecrã» que tudo se avalia, inclusive a Igreja. Esta acaba por exibir um perfil mais reactivo que pró-activo. Exposta aos sucessivos casos que sobre si são publicados, a Igreja vê-se mais escrutinada pela «agenda mediática» do que pela «agenda do Evangelho».
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Há quem a veja como uma organização meramente humana, sem qualquer afinidade com o mistério de Deus. Paradoxalmente, é o mundo que coloca a Igreja na defensiva, «empurrando-a» para dentro quando Jesus Cristo a quer voltada para fora.
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Importante é que não desocupemos estes novos «púlpitos», sabendo que não estamos sozinhos nem sequer em maioria. A resposta não virá de todos, mas torna-se urgente que a proposta chegue a todos.
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O mundo já não nos concede exclusividade. Mas continua a contar com a nossa presença!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira