Para que um aluno possa encantar-se com o conhecimento é preciso que seja livre internamente e, por isso, ter autonomia ou poder para desenvolver a sua faculdade de criatividade que é, embora não o pareça, maior que a dos adultos. É claro que o papel do educador (que transmite saberes e valores, proporcionando à criança condições mais favoráveis à sua aprendizagem) e a função do educando são complementares e nunca contraditórios.
Invenção, livre iniciativa e disciplina podem e devem conviver harmoniosamente. Pablo Picasso dizia: “A inspiração existe, mas tem de te encontrar a trabalhar”. Por seu turno, Einstein, a quem nunca faltava o bom humor, propôs a seguinte fórmula para o sucesso: A (sucesso) = X (trabalho) +Y (brincadeira) + Z (calar a boca). Se não houver liberdade e gosto interior na realização do trabalho, é difícil conseguir-se o sucesso. A brincadeira aqui não se refere a uma simples diversão, tal qual como quem vai ao cinema ou liga a televisão para se divertir durante um certo espaço de tempo. A brincadeira tem o significado de apreciar a realização de uma tarefa, porque a pessoa a executa com o coração, põe nela imaginação e criatividade, interioriza-a e faz dela obra sua. É como aquela criança que passa horas em silêncio, concentrada, a fazer construções na areia da praia ou fica agarrada à internet, numa pesquisa para um trabalho escolar interessante.
Do mesmo modo, S. Tomás de Aquino, na sua reflexão sobre o relacionamento entre a admiração e o conhecimento, expõe as duas maneiras para o adquirir: 1) por invenção ou descoberta; 2) por disciplina e aprendizagem, quando outra pessoa auxilia a razão de quem aprende. Segundo ele, a primeira é o modo mais elevado, enquanto a outra vem em segundo lugar, uma vez que toda a disciplina se faz a partir de um conhecimento preexistente, o qual tem a sua origem na pessoa que descobre, visto que ela possui as verdadeiras sementes do respetivo conhecimento. Essa explicação, dada há sete séculos, era uma intuição daquilo que agora afirma a neurociência. “Não somos completamente dependentes da experiência”, diz o neurocientista Dan Siegel, mas “estamos na expetativa dela”.
Existe na criança um movimento natural de pró-atividade para o conhecimento que, hoje em dia, por vezes, não só subestimamos, como ignoramos e até atrofiamos com uma desmedida utilização de estímulos externos. Tanto a descoberta e o prazer em aprender ou a sua curiosidade por parte do educando, como o ambiente de disciplina e a ação do educador são princípios complementares e nunca conceitos opostos. Todos têm que se saber aproveitar e desenvolver em perfeita sintonia.
Autor: Artur Gonçalves Fernandes