É sempre assim. Já o diz a canção, mas não é por isso que aqui repito o refrão. Nem por ser o povo a mandar. É mesmo por este se deixar enganar. É verdade que, como se costuma dizer, quem manda paga, e o povo tem sempre uma palavra a dizer, o que não é pouco. Mas, será que manda mesmo? Claro que é o povo que escolhe quem quer para governar e decidir por si, mas será que é respeitado? Quando são eleitos, os representantes do povo vão a correr em socorro dos cidadãos? São convincentes o suficiente de que vão a toda a pressa cumprir as promessas mais urgentes dos eleitores? Não serão, antes, os políticos que fazem a cabeça ao povo para fazerem o que lhes dá na real gana? Quando está em causa despesa pública, são criteriosos e sérios na gestão das possibilidades para a sua realização? E justos no esforço que atribuem a cada um?
Se dermos de barato que os políticos cumprem o seu mandato com respeito pelas promessas que fazem aos eleitores, o que é muito, mas muito difícil conseguir-se, ocasiões há em que, ao invés de uma atenção activa, nos desleixamos de fazer apreciação mais rigorosa. A pretexto de isto e daquilo, muitos dirigentes fomentam e autorizam despesa como se esta fosse paga por si quando, na verdade, o povo é que a paga. Quantos festejos se não fazem para atrair e cativar eleitores com a falsa sensação de que a despesa não é registada nas contas do erário público! Há dias, um presidente de câmara no distrito organizou um convívio com os seus colaboradores, com comes e bebes e um cantor profissional para animar ainda mais o convívio. Será que aquele responsável pagou do seu bolso a despesa ou mandou que a apresentassem à autarquia? Não deveria passar pela cabeça de ninguém que não tivesse sido o edil a suportar pessoalmente a despesa, mas com tantas notícias que têm vindo a público, quem não fica a torcer o nariz perante a realização?
Não é nenhum Guterres, Cavaco, Sócrates, Passos ou Costa que dá o que quer que seja. Nenhum injectou capital no erário público para um pequeno aumento na pensão ou na prestação social de cada cidadão candidato. Os responsáveis políticos fazem gestão do que é de todos e nada mais. Às vezes, mostram-se competentes, mas muitas outras evidenciam incompetência e são até irresponsáveis. Atente-se, a propósito, no exemplo relativamente recente da TAP: milhares de milhões já foram gastos na transportadora aérea para, agora, os mesmos decisores virem admitir que a empresa pode vir a fechar. Isto é admissível? Não, não é! Ninguém pode brincar com tanto milhão quando é o povo que paga, por mais que se goste de algo emblemático! Nenhum interesse político se deve sobrepôr à racionalidade e à boa gestão!
Mas, há outros exemplos. Temos vindo a assistir de bancada a inúmeros casos de corrupção e de outros crimes económicos. Nalguns, estão metidos até ao tutano políticos que era suposto estarem ao serviço do país, o mesmo é dizer, do povo; noutros, nem tanto, ainda que possam ter sido coniventes, desde logo, por não terem promovido controlo bastante ou por falta de regulação legal capaz. Bancos que se desmoronam logo depois das mais altas instâncias do país lhes darem o aval de instituições sólidas! Barragens que se vendem ao preço da chuva para depois renderem, em pouco tempo, milhões e milhões de lucro! Responsáveis implicados a viverem felizes e contentes, apesar do Estado e muitos particulares verem direitos e poupanças dissipar-se de um dia para outro!
O povo precisa de governantes responsáveis e sérios. Será que os há? Acredito que sim. O desafio será descobri-los. Em janeiro próximo teremos mais uma vez essa oportunidade. E se o poder é capaz de corromper, importa que o povo se não deixe enganar, se não desleixe logo depois de depositar o seu voto e escolher quem quer que o representante. Se não quiser continuar a pagar por erro, incompetência ou crime de quem elegeu, tem de acompanhar mais o desenrolar da governação e ser mais crítico na sua apreciação. Condescender por simpatia ou militância é o pior contributo que se pode dar em prol de um Portugal melhor, logo, mais justo e solidário.
Autor: Luís Martins