Celebra-se hoje, dia 24 de janeiro, a memória litúrgica de S. Francisco de Sales, padroeiro dos escritores e jornalistas. É também padroeiro da imprensa católica, dos confessores e dos surdos, assim como de diversas ordens e congregações religiosas. Entre estas, o destaque vai para os Salesianos, originalmente chamados “Sociedade de São Francisco de Sales”, uma ordem religiosa fundada por S. João Bosco, na cidade italiana de Turim, em 1859, e aprovada pela Santa Sé, em 1874.
Francisco nasceu a 21 de agosto de 1567, no castelo de Sales, província da Sabóia, França. Estudou retórica e humanidades na instituição jesuíta Collège de Clermont, em Paris e, de seguida, cursou Direito e Teologia, na Universidade de Pádua. Regressado à sua terra, inscreveu-se na Ordem dos Advogados e o pai preparou-lhe um futuro risonho, aos mais diversos níveis. Contudo, o seu sonho era ser sacerdote, o que veio a acontecer em 1593, quando tinha 26 anos de idade.
Nomeado Arcipreste do Cabido da Catedral de Genebra, numa altura em que o Calvinismo se espalhava na região, ofereceu-se como voluntário para evangelizar a região de Chablais, tarefa que se revelou difícil e sofrida (escapou a diversas tentativas de assassinato). Procurou conhecer melhor a doutrina de Calvino, para poder explicar as diferenças entre ela e o Credo católico. Para além da pregação e do debate teológico, valeu-se de um sistema de publicação que consistia em fixar em lugares públicos ou levar de porta em porta folhetos impressos, com a explicação das verdades da fé, de modo simples e eficaz. As conversões não foram muitas, mas cessaram as hostilidades e os preconceitos contra o catolicismo.
Quando, em 1602, faleceu Claude de Granier, bispo de Genebra, Francisco de Sales, que já era coadjutor, assumiu a responsabilidade da diocese, mesmo morando em Annecy, pois Genebra estava sob controlo calvinista. A sua diocese ficou famosa em toda a Europa, em virtude da eficiente organização, do zelo do clero e da boa formação dos leigos. Juntamente com Santa Joana Francisca de Chantal, fundou, em Annecy, a Ordem da Visitação de Santa Maria (Monjas Visitandinas), a 6 de junho de 1610.
Como bispo, escreveu muitas obras sobre direção e formação espiritual, particularmente a Introdução à vida devota, destinada particularmente aos leigos, e o Tratado do amor de Deus, uma obra mística, em que o autor revela a sua clareza e estilo. Destacou-se ainda pelo ascetismo com que vivia e pelo fascínio com que pregava. Era amigo dos pobres e pessoa paciente e afável, o que lhe valeu o título de “Santo da amabilidade”.
Faleceu em Lyon, a 28 de dezembro de 1622, vítima de derrame cerebral, quando acompanhava o príncipe Carlos Emanuel I, no seu tour de Natal pelas terras de Sabóia. Apesar da resistência da cidade de Lyon, o seu corpo foi levado para Annecy e aí sepultado, na Igreja do Mosteiro da Visitação, a 24 de janeiro de 1623, onde, em 1641, foi também sepultada Joana Francisca de Chantal. O seu coração, contudo, permaneceu em Lyon, no sentido de apaziguar o clamor popular, e aí esteve até à Revolução Francesa, altura em que foi levado para Veneza, onde ainda hoje é objeto de veneração.
Francisco de Sales foi beatificado, em 1661, pelo Papa Alexandre VII que, quatro anos mais tarde, também o canonizou. Pio IX, em 1877, declarou-o Doutor da Igreja e o Papa Pio XI proclamou-o, em 1923, patrono dos escritores e jornalistas, tendo em conta o amplo uso que fez de folhetos e livros para o apoiar na formação espiritual dos crentes e nos esforços para converter os calvinistas da sua diocese. Além disso, desenvolveu uma língua de sinais com a finalidade de ensinar a doutrina católica aos surdos.
Das suas muitas qualidades, em jeito de proposta para os cristãos de hoje e para quem na Igreja tem responsabilidades maiores, relevamos a firmeza da sua fé e das suas convicções, a ponto de ter lutado e sofrido por elas; a preocupação com a formação humana e cristã daqueles que lhe estavam confiados, usando para isso a escrita e até a linguagem gestual, no caso dos surdos; e a preocupação com a organização da sua diocese. Por último, merece destaque a sua atenção aos pobres, a paciência e a afabilidade que a todos dispensava, virtudes que o tornam modelo de vida cristã e de ação eclesial.
Autor: P. João Alberto Correia