Vi e ouvi, recentemente, na televisão, uma entrevista ao Presidente da Câmara de um dos maiores concelhos do país. E por aí fiquei a saber que, alguém naquelas funções ganha, menos de três mil euros mensais!
Tão insólita é a situação que, para ela, só encontro quatro hipóteses explicativas:
– ou o Presidente de Câmara é rico;
– ou é tão incompetente (e não é manifestamente o caso do entrevistado) que não seja capaz de ganhar um pouco mais numa qualquer actividade privada;
– ou tem uma tão desmedida sede de poder e protagonismo que superam um viver austero;
– ou tem um tão grande amor à causa pública que não se importa de impor à família uma vida de sacrifícios por amor à mesma causa.
Haverá, ainda, uma quinta hipótese que não quero, sequer, considerar aqui.
Estas quatro (ou cinco) hipóteses foram tema de acesas e amigas discussões frequentes entre mim e um amigo muito querido desde os bancos da escola, recentemente falecido.
Sustentava ele que, para a competência demonstrada, os políticos portugueses ganhavam dinheiro a mais. Sustentava eu (e sustento) que, para conseguirmos dirigentes competentes, temos que lhes pagar mais e melhor.
Num ponto estávamos de acordo: descontando as excepções (tanto mais honrosas quanto mais raras), o pessoal político que tem servido o Estado na últimas décadas é limitado, medíocre e, em muitos casos, venal. É gente nada e criada nas juventudes partidárias, que nunca trabalhou, que dificilmente conseguiria emprego noutra actividade, porque só sabe fazer o que faz – politiquice (a caricatura da política).
Só pagando muito bem aos excelentes profissionais que o país tem nas mais diversas actividades profissionais, estes seriam tentados a assumir cargos políticos – teimava eu.
Se o fizéssemos, os actuais parasitas do Estado agarrar-se-iam, cada vez com mais força, ao seu seguro de vida, que é o estado a que o Estado chegou – refilava o meu amigo.
Era uma reedição, em termos políticos, da velha questão de saber quem nasceu primeiro: se foi o ovo ou se foi a galinha.
O meu amigo morreu e a questão ficou por resolver… até que um dia, um Político (assim com P maiúsculo) quebre o ovo ou mate a galinha.
Entretanto, a mediocracia continuará a ganhar o jogo.
Nota: por decisão do autor, o presente texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico.
Autor: M. Moura Pacheco