Pretendia o Banco de Portugal, com esta resolução, salvar a credibilidade do sistema bancário português; o que interessava ao sr. governador do BdP era salvar o sistema bancário português mesmo que com sacrifícios de muitos dos depositantes do BES.
Ao separar o banco bom (NB) do banco mau (BES) criou dois mundos: o do salvados e o dos naufragados. Nos primeiros estavam os depositantes à ordem e a prazo e o papel comercial. Estes últimos náufragos foram depois atirados pela borda fora da jangada, pelo sr. Governador do BdP, Carlos Costa, porque os julgou carga a mais. O sr. Governador julgou que afogava os do papel comercial desta maneira, mas enganou-se. Os náufragos do papel comercial bracejaram, gritaram, vieram para a rua, nunca se calaram e chamaram nomes a quem lhes roubava as poupanças de uma vida. Quem grita pelo que é seu bem merece ter “direito à indignação”.
E foi tanta a gritaria e foram tantos os protestos que muita gente os ouviu e deu-lhes razão, inclusive a comunicação social. E a população também. Quando a população acredita está feita a justiça social. Ela é forte e muito sabedora em seus julgamentos. Apesar disto, muitos responsáveis calaram-se apesar de estarem comprometidos pelo abono que deram à solidez do Banco Espírito Santo. Por exemplo, o então primeiro-ministro Passos Coelho. Tapou os ouvidos aos gritos e a alma ao desespero dos enganados. O mesmo não fez o atual primeiro-ministro, António Costa, que ouviu os clamores dos náufragos, deitou-lhes a mão e empenhou-se pessoalmente por encontrar um solução, porque percebeu que uns tinham sido dolosamente enganados aos balcões do BES e outros tinham sido ludibriados pelos números falseados de balanços que o BES apresentava como garantia deste investimento.
Viu-se na rua que a ganância daquela pobre gente, chamava-se aforro para a velhice. E é a partir daqui que o Novo Banco se vai descredibilizando, dia-a-dia, após dia. O Novo Banco está com um rombo de credibilidade que não há calafate que o tape. Conforme o tempo vai passando mais se descredibiliza. Mesmo que seja vendido terá de mudar de nome, isto é, o Novo Banco precisa transformar-se num banco novo. Ultimamente, uma parte substancial dos lesados do BES, colocou uma providência cautelar contra a venda do Novo Banco.
Novamente este banco nas bocas do mundo! Se a resolução encontrada para o papel comercial já tivesse as assinaturas dos interessados, não se falava novamente em lesados do BES, nem no Novo Banco. Diz novamente a sabedoria popular: quanto mais se mexe nas fezes mais elas cheiram. Um bom banco é aquele de quem não se fala. Há lições que nunca são aprendidas, infelizmente. Vi na comunicação social que o sr. primeiro-ministro, a quem os lesados do papel comercial muito devem, esteve presente no pressuposto de acelerar ou ultimar os derradeiros pormenores desta solução compensatória aos lesados do BES.
Se assim foi, tiramos-lhe uma vez mais o chapéu por ver que o sr. primeiro-ministro, António Costa, compreende perfeitamente que, quanto mais tempo protelar a resolução definitiva dos lesados do BES, mais credibilidade perde o Novo Banco, isto é, mais difícil se torna vendê-lo. Quem compra a árvore torta nunca pode esperar pela sombra direita.
Autor: A. Sílvio Couto