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O Nó Górdio

Luís de Freitas Lobo, um dos mais conceituados comentadores do futebol nacional, continua a sua saga, perguntando por todo o lado pela razão pela qual o nosso clube não aposta de forma decidida na conquista do título nacional de futebol. A sua dúvida, a meu ver, é estranha. Por um lado, ele sabe perfeitamente quais são as razões; por outro lado, aquelas razões que ele parece desconhecer são aquelas que mais parecem evidentes (a nós, adeptos). Ou seja, para nós é mais complicado lutar contra rios de dinheiro do que lutar contra interesses monstruosos. Para ser o mais claro possível: o que aconteceu após o golo (?) do Boavista do passado domingo demonstra a miséria moral em que isto vai. Para mim, já se tornou fácil reconhecer que os nossos obstáculos não são leais. E isso é terrível. Para nós, ou melhor, perante nós, os comentadores como LFL (não me dirijo aos panfletários), reconhecer esta realidade é quase reconhecer a inviabilidade do nosso caminho. Os nossos reais inimigos são monstros que têm o seu poder baseado em mãos poderosas, influentes, e dinheiro ao qual não temos acesso. Por outro lado, estranho a pergunta por um outro motivo. É que como bracarense, o nosso ilustre jornalista conhece perfeitamente a realidade social do clube. Não, não é a velha e falsa estória dos milhões de benfiquistas – é a velha e verdadeira história da comunhão de interesses entre personagens dos quais nunca saberemos tudo… Não obstante, não me parece este um grande problema; ainda acredito na simbiose e na união de interesses; ainda acredito que um grande presidente pode até nem ser um grande braguista; mais vale um desportista honesto e um investidor talentoso que o braguista que falhe o seu projeto. A questão que se põe é precisamente esta: temos agora esse momento certo com a personagem certa no momento certo? Eu penso seriamente que sim. Talvez seja tempo, portanto, de PENSAR, decididamente nesse processo, Pensar, disse eu; planear; planificar! E, depois sim, continuar a lançar redes, como a da recente Academia. Entretanto, continuamos a ver muito desaproveitada uma das parcelas que devia ser maior nos nossos rendimentos: a venda direta de bilhetes. Chegámos pois, aqui, ao ponto fulcral. É claro que há muitos condicionalismos. Nunca a história do lençol e do pé se pôs de forma tão clara: puxas o lençol com o frio, arrepia-se-te o pescoço; puxas com os braços, arrefeces os pés. E se a solução for, tão-só, “encolhes-te”? O estádio destina uma imensa mancha de braguistas aos seus ocupantes: 30 mil, calcula-se que a totalidade deles. Para quê se nunca lá puseram os pés mais de 20 mil? Se prescindíssemos de uma boa parte destes lugares, se os deixássemos de ter como cativos, estaríamos a atrair aquilo que mais precisamos no estádio – GENTE. Há muitas condições a rever para pôr isto em prática; mas também para isto é que há muito boa gente para pensar… uma coisa é certa: atingimos aqui um nó górdio da questão – o que fazer com este estádio tão bonito?
Autor: Manuel Cardoso
DM

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4 janeiro 2018