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O Natal não estará em risco?

Soube-se, há dias, que circulava nos meandros burocráticos da União Europeia (Bruxelas e Estrasburgo) uma proposta de linguagem de onde seriam retirados os termos alusivos ao Natal e àquilo que isso representava. Sabido tal intento, o Secretário de Estado do Vaticano fez saber da reprovação de tais desejos e – ao que parece – o ‘documento de trabalho’ foi retirado de circulação.

Este mais do que episódio fez emergir a consciencialização de que há forças – pretensamente democráticas – que não sabem lidar com a história e tão pouco a memória da Europa com raízes cristãs fundadas no cristianismo, sem esquecer o contributo de outras ‘religiões’, embora mais recentes e menos representativas.

Apesar de ser incomodamente unitivo da identidade deste continente é recorrente surgirem ‘iluminados’ que pretendem ignorar tudo isso, augurando fazerem-se capazes de construir ‘uma’ nova história, reescrita com os seus critérios e ao sabor dos seus intentos subterrâneos.

Partindo da palavra ‘Natal’ construímos uma frase com as iniciais dessa mesma palavra –‘Nasceu aqui tanta aprendizagem da liberdade’ – que desenvolveremos nalgumas ideias simples e algo básicas:

* Nasceu – celebramos por excelência no Natal a manifestação da vida, esse valor de tantas formas questionado na letra e na forma por instâncias europeias e por muitos dos seus cidadãos. Com efeito, o Natal denuncia o aborto, a eutanásia e tantas outras formas atentatórias da vida, o principal valor e critério de conduta humana e civilizacional. Por que será que custa a tanta gente aceitar a vida como dom? Se retirarmos a vida que nos ficará de essencial? Certos gestos de fechamento à vida não denunciam a ética de tantos sem moral?

* Aqui – é nesta parte do planeta Terra, de entre os seis continentes, que se tem construído uma civilização tão antiga quão questionável e necessitada de ser revista. A Europa como continente tem as seguintes caraterísticas: área de 10.480.000 Kms2; população: 762,1 milhões; 49 países, dos quais 27 fazem parte da União Europeia e destes 19 têm o euro como moeda única. É neste continente, ‘aqui’, que se continua a fazer civilização, com o confronto de ideias, onde muitos usufruem das regalias da UE, embora a contestem!

* Tanta – perante os sucessos nos diversos campos da atividade, os europeus devem, hoje, saber respeitar também os valores dos povos de outros continentes. Embora se note uma certa estagnação espiritual e religiosa na Europa, precisamos de aprender a revalorizar as expressões culturais de outros povos, onde também o cristianismo tem força de fé e de vida. Efetivamente vemos, de tantos modos e vivências, que o anúncio do Evangelho tem ganho nova expressão cultural com que ardor e motivação.

* Aprendizagem – ao longo dos séculos, podemos constatar como o Natal foi sendo vivido sem se descentrar. Sobretudo após a refontalização de S. Francisco de Assis, no século XIII, o Natal passou a ser ainda mais cristão: o presépio fez ganhar nova vivência o mistério da encarnação do Verbo, pois é Jesus-Menino o centro da festa, isto é, o festejado. Com o consumismo em crescendo, Ele foi quase sendo obnubilado pelas coisas, chegando-se, agora, à sobreposição das prendas sobre o verdadeiro presente, que é Ele. Esta aprendizagem faz-nos caminhar para não perdermos o essencial com adereços de circunstância…

* Liberdade – como valor inestimável sempre norteou o comportamento, sobretudo, na Europa. Percorridos tantos séculos de história podemos compreender um tanto melhor que a liberdade de pensamento, de ação ou de expressão foram cultivados por boa parte dos europeus e, mesmo quando isso não aconteceu, sempre surgiram vozes e personalidades a reclamarem dessa ausência. Não podemos excluir dos nossos dias a possibilidade de termos de fazer com que a liberdade seja sempre um valor que nos trazido pelo mistério do nascimento de Jesus, no tempo e na história.

Hoje como ontem, é em Jesus, por Jesus e com Jesus – senhor da vida e da morte – que poderemos viver em fraternidade, pela igualdade e com liberdade… o resto soará a falso e/ou a manipulação ideológica.


Autor: António Sílvio Couto
DM

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13 dezembro 2021