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«Sair para fora» é um dos pleonasmos mais notados na linguagem verbal. «Para fora» está a mais porque não é suposto que «sair» seja «para dentro». Já na vida, o que parece estar a mais é «sair». Vivendo nós tanto «por fora», que necessidade teremos de «sair»?
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Só saímos para onde não estamos.Se estamos quase sempre no exterior, não é seguramente para lá que temos de «sair».
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Por hábito – e por pressão –, fomo-nos tornando seres incorrigivelmente «extro-vertidos», isto é, «voltados para fora».Em princípio, esta «extro-versão» até deveria ser saudável. Sair é o nosso desígnio.
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O problema está no que mostramos quando saímos.É que o excesso de exposição no exterior destapa, frequentemente, uma tremenda ausência de vivência interior.
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Acresce que, ao contrário do que seria de esperar, todo este vendaval de «extro-versão» não nos desamarra do egoísmo que (teimosamente) nos aprisiona. No exterior, queremos mais competir do que cooperar.Daí a aposta no aparato e o investimento na aparência. E daí também as ambições, as rivalidades e as desconfianças. A prioridade não é estar com os outros; é impor-se aos outros e ser louvado pelos outros.
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Como têm pouco no seu interior, as pessoas sentem-se carentes de aprovação exterior. Quando esta não vem, vêm toneladas de frustração, abatimento e depressão. É por isso que as pessoas estão permanentemente «cá fora», a «mendigar» reconhecimento e aplausos.
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Hoje em dia, praticamente deixou de haver vida íntima. Pomos tudo «cá fora», incluindo o que devia ser mantido dentro: a nossa intimidade.
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Nem no Natal serenamos. Até no Natal corremos e nos agitamos. Nem sequer reparamos que o Natal começa por dentro, pelo interior. O Menino que nasceu em Belém veio do interior do Pai.
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São João usa a palavra «kólpos», que significa «seio»: «O Filho Unigénito, que está no “seio” do Pai, é que O deu a conhecer» (Jo 1, 18).Eis a perene lição do mistério da Encarnação: Deus não Se fica pelo interior, mas vem a partir do Seu interior. É a partir do interior que tudo (re)começa.
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A ter de «sair», saiamos também para onde não temos estado: «saiamos» também para dentro. É um paradoxo, mas é sobretudo uma urgência.Um acréscimo de vida interior perfumará – com tintas de paz e cores de esperança – este nosso sobressaltado mundo exterior!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira