Com toda a certeza que pusemos todo o empenho na forma como fizemos o nosso Presépio. Antes de mais, se ele está presente na nossa casa, é porque nos maravilhou sempre o facto de podermos dirigir o nosso olhar e as nossas petições às três figuras principais – Jesus, Maria e José – que são parte da nossa vida e da nossa família sobrenatural. Em segundo lugar, porque se as circunstâncias do nascimento de Jesus, o nosso Redentor, não, foram, humanamente, as mais usuais na forma como uma criança vem ao mundo nos nossos dias – todos nós nascemos numa casa, ou, na mais bizarra das hipóteses, numa ambulância com pessoal competente para nos atender –, Jesus nasceu num estábulo, lugar pouco agradável e próprio de animais.
Temos a convicção profunda de que S. José, preocupado e triste por não ser atendido pelos seus eventuais parentes, pelos proprietários da hospedaria ou ainda por outras pessoas na cidade de Belém, tentou, tanto quanto lhe foi possível, tornar esse lugar o mais adequado para o feliz acontecimento que aí veio a ocorrer. Pensamos, também, que sua esposa, Maria, o tentou sossegar, tirando importância às circunstâncias em que havia de nascer o seu Filho divino, anunciado pelo Anjo Gabriel na sua humilde mansão de Nazaré. O importante é que, ao fazermos o presépio no nosso lar, procuramos aproximar-nos de Jesus e agradecer-Lhe com humildade a sua vontade de nos voltar a conceder, realizada por Si a Redenção do género humano, a graça de Deus e a filiação divina, que são condições indispensáveis para podermos aceder ao melhor dom que o nosso Criador nos ofereceu e que o pecado humano tinha inviabilizado: o Céu.
Olhamos Jesus, criança inerme e completamente entregue aos cuidados de seus pais – sobretudo da sua Mãe – para poder sobreviver. Como homem, o nosso Redentor sujeitou-Se, dum modo inequívoco, a todas as condições e potencialidades da nossa natureza. Quando vem ao mundo, um novo ser humano necessita de alguém para o fazer subsistir. Abandonado, está condenado a morrer inexoravelmente. E para se fazer homem autónomo, sujeita-se a um longo e variado processo de educação, que lhe é ministrado e ao qual ele se adapta e dele retira com proveito todas as lições que lhe vão permitir agir com independência e com sucesso.
Fitando de novo Jesus como um bebé recém-nascido, agradecemos-Lhe a sua confiança no poder educativo do homem. E recordamos que, como nos diz a Bíblia, no livro do Génesis, fomos criados à imagem e semelhança de Deus (Gén. 2, 27), pelo que temos possibilidades de trazer ao mundo e de educar – como Deus a nós –, tornando esse ser totalmente dependente, a pouco e pouco, e ao longo dum moroso e complexo caminho de ensino e aprendizagem, num ser adulto, com autonomia e a capacidade de concretizar uma obra fértil de realizações materiais, morais e de todo o tipo. Essa criança, deitada na manjedoira que José e Maria procuraram tornar mais cómoda e apropriada para Jesus aí repousar, está destinado viabilizar a nossa Redenção. Para isso, assumiu a nossa condição e vai aprender, sobretudo de seus pais, como aconteceu connosco, tudo o que, humanamente, necessitava para Se fazer entender pelos seus congéneres.
A Redenção poderia ter sido planeada de muitas maneiras. No entanto, como Deus sempre confia nas virtualidades que oferece à natureza dos entes que cria, achou por bem que tal obra, no caso do homem, fosse profundamente convincente e adequada à sua compreensão. Assim, recordemos uma vez mais: esse bebé recém-nascido que contemplamos no nosso presépio, representa a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho, que, por obediência a um pedido do Pai, encarnou, e já enquanto homem adulto, com plena liberdade e por amor a todos nós, oferecerá a sua vida na Cruz do Calvário. Jesus mostra, com transparência completa, que não é um teórico. O que diz tem sempre um profundo, objectivo e concreto sentido real. Lembremos, a propósito, esta sua observação “Não há maior prova de amor do que dar a própria vida pelos seus amigos (Jo 15, 12) ”. E foi exactamente o que fez.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva
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DM
30 dezembro 2018