twitter

O mundo novo espera por nós

  1. Há dois mil anos, Jesus foi condenado: não por convicção, mas por pressão.

Pilatos não encontrou qualquer culpa em Jesus (cf. Jo 19, 5). Mas acabou por ceder à insistência dos adversários de Jesus (cf. Jo 19, 16). Ou seja, acreditava na Sua inocência. Mas nada fez para O poupar.

  1. Vinte e um séculos depois, o cenário não se alterou muito.

Ainda sofremos de uma espécie de iliteracia ética. Pois não é só não saber ler e escrever que faz de nós analfabetos. Como bem notou Alvin Toffler, o que nos torna analfabetos, mesmo sabendo ler e escrever, é a falta de vontade de «aprender, desaprender e reaprender».

  1. É fundamental estar atento às ocorrências. Todavia, não podemos ser apressados no julgamento das pessoas (cf. Deut 1, 17).

Tanto mais porque, não raramente, julgamos a partir de predisposições.

  1. Com quem temos afinidade, predispomo-nos a avaliar qualquer acto como virtude.

Já com quem mantemos alguma hostilidade, predispomo-nos a (des)qualificar o mesmo acto com irremissível impiedade.

  1. O desporto serve bem para ilustrar.

Os adeptos do clube que contrata um jogador exaltam-no como uma «estrela». Pelo contrário, os simpatizantes do clube que fica sem o jogador apodam-no como um ingrato, que só pensa em dinheiro.

  1. «Mutatis mutandis», na vida, todos nos transformamos, por vezes, em «jogadores» e «julgadores».

Julgamos os outros conforme as variáveis de simpatias e antipatias, de afeições e animosidades. E é assim que a uns (quase) tudo é tolerado ao passo que a outros (quase) nada é permitido.

  1. Bem pergunta o Papa Francisco: «Quem sou eu para julgar?».

Acresce que até julgamos sem perguntar, sem conhecer, sem dar oportunidade de defesa.

  1. Há comportamentos que não podem ser consentidos, de tão repelentes e desumanos.

Mas quem protege efectivamente as vítimas? Não correremos inclusive o risco de aumentar o seu número?

  1. Em qualquer circunstância, há que defender os mais desprotegidos. E é vital erradicar todo e qualquer assentimento à menor atrocidade que se cometa à face da Terra.

Para isso, há muito que fazer. Mas, como advertia o Mestre Eckhart, «é mais urgente pensar no que se deve ser do que pensar no que se deve fazer».

  1. Ainda somos muito «pigmeus» na bondade. Ainda nos damos ao topete de alçar o mal (desde que nos seja útil) à categoria de bem.

Estaremos à beira do fim? Que possamos estar, antes, no limiar de um novo nascimento. O mundo novo – fraterno e pacífico – espera por nós!


Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
DM

DM

14 fevereiro 2023