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Há dois mil anos, Jesus foi condenado: não por convicção, mas por pressão.
Pilatos não encontrou qualquer culpa em Jesus (cf. Jo 19, 5). Mas acabou por ceder à insistência dos adversários de Jesus (cf. Jo 19, 16). Ou seja, acreditava na Sua inocência. Mas nada fez para O poupar.
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Vinte e um séculos depois, o cenário não se alterou muito.
Ainda sofremos de uma espécie de iliteracia ética. Pois não é só não saber ler e escrever que faz de nós analfabetos. Como bem notou Alvin Toffler, o que nos torna analfabetos, mesmo sabendo ler e escrever, é a falta de vontade de «aprender, desaprender e reaprender».
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É fundamental estar atento às ocorrências. Todavia, não podemos ser apressados no julgamento das pessoas (cf. Deut 1, 17).
Tanto mais porque, não raramente, julgamos a partir de predisposições.
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Com quem temos afinidade, predispomo-nos a avaliar qualquer acto como virtude.
Já com quem mantemos alguma hostilidade, predispomo-nos a (des)qualificar o mesmo acto com irremissível impiedade.
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O desporto serve bem para ilustrar.
Os adeptos do clube que contrata um jogador exaltam-no como uma «estrela». Pelo contrário, os simpatizantes do clube que fica sem o jogador apodam-no como um ingrato, que só pensa em dinheiro.
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«Mutatis mutandis», na vida, todos nos transformamos, por vezes, em «jogadores» e «julgadores».
Julgamos os outros conforme as variáveis de simpatias e antipatias, de afeições e animosidades. E é assim que a uns (quase) tudo é tolerado ao passo que a outros (quase) nada é permitido.
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Bem pergunta o Papa Francisco: «Quem sou eu para julgar?».
Acresce que até julgamos sem perguntar, sem conhecer, sem dar oportunidade de defesa.
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Há comportamentos que não podem ser consentidos, de tão repelentes e desumanos.
Mas quem protege efectivamente as vítimas? Não correremos inclusive o risco de aumentar o seu número?
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Em qualquer circunstância, há que defender os mais desprotegidos. E é vital erradicar todo e qualquer assentimento à menor atrocidade que se cometa à face da Terra.
Para isso, há muito que fazer. Mas, como advertia o Mestre Eckhart, «é mais urgente pensar no que se deve ser do que pensar no que se deve fazer».
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Ainda somos muito «pigmeus» na bondade. Ainda nos damos ao topete de alçar o mal (desde que nos seja útil) à categoria de bem.
Estaremos à beira do fim? Que possamos estar, antes, no limiar de um novo nascimento. O mundo novo – fraterno e pacífico – espera por nós!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira