Na procura de um tema para a habitual reflexão que regularmente aqui partilho com os meus estimados leitores, recordando os factos e as notícias dos últimos dias, sou levado a concluir que o Mundo parece ter mergulhado num perigoso tempo de inumeráveis tormentas.
Os desastres naturais, cada vez mais violentos e devastadores como o recente ciclone que assolou Moçambique e outros países vizinhos, os inclassificáveis atentados na Nova Zelândia, as imagens de violência e destruição na sequência das manifestações do movimento “coletes amarelos”, em França, a interminável guerra comercial entre os Estados Unidos da América e a China, a vergonhosa situação de penúria do povo venezuelano, ou ainda o absurdo arrastar do “Brexit” são motivos suficientes para causar apreensão e inquietude a qualquer mortal que se detenha a olhar um pouco mais longe.
Em simultâneo, mas talvez com efeito ainda mais arrasador para a sã convivência entre os povos, para a liberdade, para a democracia e para a paz, robustece a onda de populismos de diversas cores e a manipulação da “internet”, com a proliferação de notícias falsas e o ingovernável poder das redes sociais.
Confinando a observação ao nosso país e à União Europeia (EU) a que pertencemos, o desassossego e até um certo temor subsistem com a mesma intensidade.
De facto, Portugal, como resultado de muitas vicissitudes que nos últimos anos têm prevalecido na nossa democracia, não soube aproveitar as condições externas favoráveis, nem para fazer as reformas que o fizessem crescer mais, nem para promover as alterações legislativas necessárias que libertassem o regime da multiplicidade de interesses que o cercam e o imobilizam.
Já no que diz respeito à EU, as perspetivas também não são propriamente animadoras, tendo em consideração o que pode ser a futura composição do Parlamento Europeu com o provável aumento significativo de deputados eurocéticos, com o já anunciado abrandamento económico e, sobretudo, com as consequências imprevisíveis do impasse da resolução da permanência ou da saída do Reino Unido.
Que razões procurar para tamanho sobressalto e tanta desumanidade?
Em tempo de profundas transformações sociais resultantes do avanço científico e tecnológico, que motivos estarão na génese dos atuais problemas para a Humanidade?
Acredito cada vez mais que na sua origem está a concentração da riqueza nas mãos de uma pequena minoria e a idolatria do dinheiro, materializados no capitalismo sem regras e sem rosto. Em diferente contexto, mas não menos importante, está o crescente abandono dos valores espirituais e religiosos, a relativização do valor da vida, os ataques, uns bem claros e outros mais ocultos, à família tradicional, enfim a investida aos mais elementares princípios da condição humana.
Em dia do Pai e de São José, padroeiro das Famílias e dos Trabalhadores, é preciso despertar para a realidade e, sem receios de remar contra a corrente, não deixar de intervir. Tudo calar por cobardia ou comodismo e não denunciar os fenómenos maléficos que vão corroendo a sociedade contemporânea, é pactuar com um caminho que pode levar à destruição do próprio homem.
Nunca como hoje a notícia de qualquer acontecimento, por mais longínqua que seja a sua origem, chegou até nós tão rapidamente. Nunca como hoje a massificação da informação despertou em cada homem e mulher a condição de ser superior, dotado de dignidade humana.
Neste sentido, mais do que nunca, é preciso estar prevenido para acomodar as transformações do nosso tempo e saber resistir a falsas promessas e a alguns modernismos que não visam senão destruir aquela mesma dignidade.
Neste Mundo conturbado, em tempos de apreensão e de insegurança é essencial que cada um mantenha a serenidade e contribua para a construção de um mundo melhor, tendo sempre em conta os bons princípios da honra, da verdade, do trabalho, da fraternidade, da justiça e da paz.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira