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O meu aplauso para o Arcebispo Peregrino!

No primeiro domingo do mês de junho de cada ano costuma realizar-se a tradicional peregrinação a Nossa Senhora do Sameiro, cujo trajeto leva os peregrinos desde a sé primacial de Braga até à Basílica do Sameiro. Trata-se de um rito religioso ao qual estou intimamente ligado, porque na minha infância os meus pais costumavam levar-me nesta peregrinação até ao alto da fantástica e maravilhosa serra de Espinho. Saindo da zona ribeirinha da Ucha pela manhazinha, atravessávamos o rio Cávado numa barca de passagem que havia em Padim da Graça: «Ó barqueiro!», atravessávamos Mire e Parada de Tibães, metíamos a Real e, por fim, subíamos a Cónega até ao centro de Braga. Fôssemos incorporados ou não na procissão, assistíamos à celebração da santa missa no Sameiro, posto o que procurávamos um lugar aprazível nas matas que rodeiam a basílica para saborearmos o repasto que era preparado de véspera. Por vezes, o regresso fazia-se pelo Bom Jesus, onde aproveitávamos para nos deliciarmos com a beleza do lugar, para retemperar energias e, até, para nos dessedentarmos com um fresco e delicioso refrigerante. Mais tarde, quando me tornei independente, deixei de peregrinar ao Sameiro. Mas, a partir do momento em que meu saudoso pai faleceu, reatei essa tradição que estava quase perdida na minha condição de homem possuído pelos trabalhos do mundo. E reatei-a pela simples razão de que não queria que esse rito deixasse de fazer parte da vida espiritual da minha família, que sempre foi muito devota de Nossa Senhora do Sameiro, desde a instituição do respetivo culto (1863). Minha mãe, que ainda vive graças ao bom Deus, reza-lhe muito, e da última vez que a levei ao Sameiro, depois de passear no recinto e de rezar à Senhora na basílica, virou-se para mim e disse: «O Sameiro está tão bonito, e os portugueses preferem ir para fora!» No passado domingo, como os meus pais já não puderam peregrinar, peregrinei eu para os representar junto da Senhora, e para pedir que Ela continue a lançar o manto da sua misericordiosa proteção sobre a minha família. Foi com imensa alegria que vi uma grande multidão subir ao monte sagrado do Sameiro rezando e cantando durante quatro horas de marcha! É sempre comovente ver como a Senhora é esperada, acarinhada e louvada pelas ruas por onde passa, mas também pelas aldeias de Tenões e Nogueiró, onde é acolhida por piedosas orações e petardos festivos. Mas se é comovente este amor que o povo de Braga continua a devotar à sua Senhora, também não deixa de ser comovente que o arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, tenha feito a peregrinação desde o Largo da Sé até ao adro da basílica! Eis a razão por que lhe chamei arcebispo peregrino no título desta crónica. Sendo ainda jovem, e tirando partido da sua aparente boa saúde, decidiu acompanhar o seu povo num extraordinário ato de fé, pois, como ensina o Evangelho do Senhor, o pastor deve estar no meio das suas ovelhas. Mas é com tal humildade que melhor pode intuir a natureza generosa e fiel da alma do povo bracarense. Jesus Cristo também foi um peregrino. Depois que regressou do Egito, para onde seus pais O levaram, por causa da perseguição de Herodes, regressou a Nazaré, onde recebeu a educação de toda a criança judia. Mas, chegado o seu tempo, pregou a Boa Nova na companhia dos apóstolos por toda a Galileia, Pereia, Samaria e Judeia. E até mesmo fez peregrinos os seus apóstolos: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura.» Mateus 28:19. O gesto de D. José Cordeiro compagina-se com a doutrina de Cristo e constitui um exemplo de piedade que deve merecer a admiração de todos católicos da sua arquidiocese. Estou em crer que a sua figura simples e desafetada, mas salutarmente risonha (o cristianismo tem forçosamente de ser uma religião alegre, pois acreditar e orar não pode ser um fardo físico ou moral), será de molde a cativar a nossa juventude para a prática religiosa, porque a Igreja de Cristo está carecida do renovado influxo divino que existe nas almas puras. Laus Deo.
Autor: Fernando Pinheiro
DM

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7 junho 2022