Junho, mês das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, é nele que o calendário assinala o início do verão e dos Santos Populares. É um tempo propício à festa e à alegria e, com a extensão dos dias, uma oportunidade maior para prolongar uma boa conversa, aproximar a família e os amigos e cultivar tradições que nos identificam e nos distinguem.
Acresce que este ano, em virtude da realização do Campeonato do Mundo de Futebol que irá decorrer na Rússia, esta época é ainda mais propícia a gerar outras emoções que este desporto sempre motiva.
As festas populares que durante o mês em curso, um pouco por todo o país, elevam as virtudes de Santo António, S. João e S. Pedro são um importante património e um valioso bastião da nossa cultura e da portugalidade espalhada pelos diversos cantos do mundo.
Tesouro que é necessário preservar e defender, porque no mundo atual acossado pelos efeitos mais nocivos da globalização, mais do que nunca, é preciso que cada povo saiba preservar a sua identidade.
Estas festas populares que assentam em raízes de cunho religioso, nelas participando pessoas de todas as idades e de diferente condição social, são uma demonstração perfeita da verdadeira fraternidade e uma expressão genuína do sentir profundo do povo português que contribui para a portugalidade que nos identifica e nos distingue.
Portugalidade, palavra que apesar da controvérsia da sua origem e da sua génese, talvez por ter sido fortemente utilizada pela propaganda do Estado Novo, é sinónimo da qualidade distintiva do que é ser português, do seu amor pátrio e do caracter específico da cultura e da história de Portugal.
Acredito que esta característica peculiar deste povo a que orgulhosamente pertenço assenta em primórdios mais remotos. Na realidade, desde a fundação do Reino, esta forma de ser português foi-se enraizando no âmago do povo, fazendo dele, em simultâneo, ator e expetador na forma de a sentir e de a projetar nas futuras gerações.
Assim, o povo português com a sua língua e a sua cultura desde muito cedo abraçou a universalidade como um desígnio muito próprio, criando e assumindo esta característica especial e diferente a que chamamos portugalidade.
Já Luís de Camões, no Canto I de “Os Lusíadas”, retrata bem este desígnio e, mais de três séculos volvidos, Fernando Pessoa, no seu único livro de poemas publicado em vida, “Mensagem”, não deixa de o fazer. Ainda um pouco mais tarde, Miguel Torga (1907-1995), já no ocaso da vida, no seu último “Diário”, referindo-se à Europa como oportunidade de Portugal se modernizar, chama à atenção para o cuidado a ter para que o país não desrespeite o caracter genuíno que constitui a portugalidade.
Ano após ano, a portugalidade é profusamente celebrada e revivida um pouco por todos os continentes graças ao contributo das autoridades nacionais, à diáspora lusitana e aos milhares de lusodescendentes que voluntariamente se associam a esta efeméride para que as tradições portuguesas sejam perpetuadas e engrandecidas.
Este é mais um sinal inequívoco de que, apesar de longe da Pátria, estes nossos irmãos continuam a ter uma ligação umbilical à terra-mãe e a cultivar esta ímpar peculiaridade.
No contexto desta análise, regozijo-me com as celebrações oficiais do 10 de junho do ano em curso. Mais uma vez, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Primeiro-ministro, António Costa, ao repartirem as comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas pelos Açores e pelos Estados Unidos da América deram um valioso contributo para a conservação e expansão desta característica singular do povo português.
Autor: J. M. Gonçalves de Oliveira