1. Eis-nos – quase de repente – com a vida em suspenso. Temos de ficar em casa por uma imperiosa causa.
Algo desmesuradamente pequeno consegue provocar estragos dolorosamente grandes.
2. Trata-se de uma invasão «virulenta» que está a desencadear uma tenebrosa revolução «violenta».
De um momento para o outro, o que fomos conquistando parece ruir em cascata.
3. A velocidade a que se propaga esta pandemia ameaça desmontar as maiores aquisições que fomos coleccionando.
A globalização aproximou-nos, mas nesta hora a proximidade é o que mais nos pode pôr em perigo.
4. É verdade que, para um dia voltarmos a estar próximos, temos agora de ficar mais distantes. Mas é sumamente penoso não poder apertar a mão nem dar um abraço.
Não confundamos, porém, distanciamento com indiferença ou abandono. Há muitas formas de ser próximo sem estar perto.
5. As deslocações, a que nos habituamos na «aldeia global», fizeram «deslocar» – além das pessoas – a doença entre as pessoas. A «civilização do conforto» está a gerar um pavoroso «desconforto».
Até os lugares onde os mais idosos aparentavam estar mais seguros arriscam-se a «incendiar» poderosos – embora involuntários – focos de insegurança.
6. Hoje em dia, todos nós podemos estar infectados e a infectar. Com a agravante de ser possível estar a infectar sem termos sinais de estarmos infectados.
Num mundo tão programado, vimo-nos, num instante, completamente desprogramados.
7. Que fazer, numa situação destas? Muito já está a ser feito: cuidar dos doentes, prestar apoio aos doentes, evitar que se fique doente. Há gestos meritórios e acções heróicas. Há quem saiba abdicar de si para ser «samaritano» junto dos outros.
Nesta altura, há que cumprir normas. Ficar em casa é um recurso de indispensável profilaxia. Não está a ser fácil para muitos. Mas será muito mais difícil se não tomarmos esta elementar medida de precaução.
8. E façamos a «melhor parte», como Maria, irmã de Marta (cf. Lc 10, 42). Sabemos que «a Deus nada é impossível» (Lc 1, 37).
Acreditamos que Deus há-de soprar um caminho e uma direcção para que se ponha fim a esta provação. Sejamos as Suas mãos, os Seus pés, o Seu coração.
9. Rezemos. Voltemo-nos para Deus que não desatende as preces dos filhos Seus.
Não desistamos da esperança. A humanidade terá de sair daqui melhor do que foi até aqui.
10. Tremendo com os nossos «pés de barro», recordemos que foi do «barro» que Deus fez o homem (cf. Gén 2, 7).
Que a homofonia entre «homo» (homem) e «humus» (terra) nos inspire uma humanidade com mais humildade. Precisamos de uma humanidade mais efectiva e afectivamente próxima. O melhor está para vir!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira
O melhor está para vir!

DM
31 março 2020