Sabemos, há muito, que ele tentaria fechar os EUA ao mundo, no pressuposto de que a riqueza dos americanos está na América e não fora dela. São muito desalinhadas as suas opções como presidente e todas de molde a podermos temer o pior. A verdade é que ele derrotou duma assentada as duas famílias políticas dos partidos americanos, tanto os democratas como os republicanos; diz-me isto que os eleitores do Tio Sam estão fartos de uns e de outros e que Trump, sendo contra este sistema, ganhou a eleição ao capitalizar este descontentamento/persistente.
Os eleitores americanos deixaram aos partidos políticos este forte aviso: ou resolvem os nossos problemas pessoais ou não precisamos de vocês para nada. Isto pode levar-nos à subalternização dos partidos políticos e ao ressurgimento de governações de individualidades independentes que, sem compromissos ou obrigações partidárias, sem famílias políticas, autenticamente independentes, governam no interesse do povo, próximo do povo e para o povo, ou a um Governo tecnocrata sem ter em conta as pessoas?
Basta olharmos como ele duma penada acabou com a assistência na saúde de milhões de americanos pobres! Hoje todos temos medo dos sentimentos xenófobos por ele anunciados, pelo protecionismo à economia americana, pelo desrespeito por tratados mundiais, pelo conceito machista que tem para com as mulheres, pela tentativa de calar a comunicação social mais incómoda; são prenúncios de algo que tudo pode mudar. Ele será um anticristo? Trump estará no Armageddom, isto é, batalha final do bem contra o mal? Trump já não é uma incógnita. Mas ainda é o quarto escuro onde se tem medo de entrar. Esperemos que no decorrer do tempo, o presidente dos Estados Unidos da América faça luz que possamos enxergar num desempenho equilibrado. É o medo que isto tudo possa ser que justifica as manifestações gordas contra ele; também é o medo da novidade; é o medo de ser diferente; o medo de perder algo que parecia consolidado e é também o medo deste vulcão. Mas Donald Trump foi eleito democraticamente. A democracia não é apenas boa quando nos dá jeito, é sempre a mesma mesmo quando os eleitos não são do nosso agrado.
Nos EUA houve uma eleição que não um mero plebiscito. Gostaríamos de saber se todos os, ou as, manifestantes contra Trump foram às urnas expressar a sua opção política. Parece-me que se todos aqueles e aquelas que agora berram nas manifestações de massas, fossem votar contra Trump, ele não ganharia as eleições americanas. Lá, como cá, há os que não indo votar transformam-se depois em contestatários de primeira linha; o que provavelmente aconteceu na eleição de Trump, já certamente tem acontecido em Portugal. E de quem é a culpa? Há muito o vício de dizer que não vale a pena ir votar porque um voto a mais, ou um voto a menos, não muda nada. Errado. Cada voto conta. Com Trump não se inaugurou a vitória dos independentes contra as famílias políticas.
Rui Moreira, por exemplo, ganhou como independente a Câmara do Porto. Ressalve-se aqui qualquer semelhança entre os dois, como é evidente. Por que razão ganham os independentes as eleições às forças políticas organizadas em partidos? Porque existe um descontentamento/persistente contra os políticos que colocam em primeiro lugar os interesses partidários e em segundo os interesses do país e em último os interesses das pessoas. Basta ver o que se passou com a TSU.
Autor: Paulo Fafe