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O legado dos grandes eventos desportivos

Os requisitos mínimos obrigatórios exigidos para os organizadores, particularmente em número de espetadores, obrigam à construção de um parque desportivo insustentável e muito longe do que são as necessidades locais ou nacionais de que quem os edifica. São muitos os exemplos conhecidos de degradação de instalações desportivas pelo seu “não uso” ou pelo esforço que entidades públicas locais, regionais e nacionais fazem por manter a qualidade destes equipamentos. E esta questão, como se sabe, não acontece apenas lá fora, temos em Portugal os nossos 3 ou 4 “elefantes brancos” herdados do Euro-2004 e que em alguns casos não se sabe mesmo se o desmantelamento seria ou não a melhor solução.

Com a dificuldade em obter organizadores de grandes eventos mundiais, as Federações Internacionais e mesmo as Continentais, colocam finalmente na sua agenda, tal como fez recentemente o Comité Olímpico Internacional, a sustentabilidade e as orientações necessárias para não se correrem riscos que no passado já saíram muito caros e a muita gente. Assim, o legado passa a ser mais de teor imaterial e, quando é necessário construir, as soluções passam por ser temporárias, ou adaptadas para o uso futuro das comunidades e agentes desportivos locais. 

Desta feita, e para que estes acontecimentos se tornem após a sua realização um valor acrescentado para quem os recebe, é necessário criar um verdadeiro legado baseado na redução dos custos de organização; flexibilização dos processos e requisitos dos eventos com vista à sua sustentabilidade; adequação das instalações desportivas e de apoio já existentes; melhoria das redes de transporte e comunicações; criação de emprego; desenvolvimento de programas de formação profissional, académica e de investigação; dinâmicas de cooperação e investimento entre os agentes do setor público e privado para a criação de serviços e produtos inovadores para o mercado; atuar fortemente numa lógica de responsabilidade social;

promover a igualdade de género; envolver ativamente as comunidades e agentes desportivos e culturais locais na organização e promoção do evento, trabalhar com os promotores turísticos nacionais e a nível global para a valorização e imagem de quem acolhe os eventos, promovendo o número de visitantes; e finalmente, que estes momentos altos se enquadrem em planos de desenvolvimento desportivo locais, regionais e nacionais, desde o desporto de base ao desporto de alto rendimento.

Os eventos desportivos internacionais são um excelente momento de promoção das organizações e dos países que os acolhem, no entanto, têm que ser vistos como um motor de desenvolvimento social, e só o serão se não se constituírem como um fator perturbador da economia. 


Autor: Fernando Parente
DM

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16 junho 2017