Com a independência dos países africanos de expressão portuguesa, verificou-se o êxodo dos colonos principalmente para Portugal, o que constituiu uma complexa situação no seu acolhimento, resolver a sua fixação, o seu alojamento, a criação de postos de trabalho e o lançamento de empresas ou atividades capazes de atenuar o momento difícil que o país atravessou.
Apesar de a maioria chegar a Portugal sem bens ou meios de subsistência, exceto aqueles que ainda tinham aqui família para os apoiar, os cidadãos originários principalmente de Angola e de Moçambique, mostraram uma grande capacidade de adaptação e integração, pois naquelas colónias várias gerações viveram momentos difíceis, em regiões inóspitas, isoladas e sem acessos, tendo-se de adaptar a um clima muito diferente e a uma vivência interétnica integradora, lutando em condições adversas para a criação de meios produtivos e consequente desenvolvimento das colónias.
Com a sua visão pragmática e inovadora, aliada ao espírito de sacrifício e capacidade de resistência às adversidades, contribuíram para o grande desenvolvimento do país, principalmente no interior, em diversas áreas, mediante o lançamento de projetos ligados à agricultura, ao comércio, às empresas e à indústria.
Portugal sofreu um impulso com o retorno forçado destes cidadãos, os quais instalados nos centros urbanos periféricos e principalmente no interior, em aldeias, em vilas e em cidades, foram o cerne de uma ocupação geográfica e de rejuvenescimento populacional. Os ex-colonos foram motores, dentro do bom entendimento com a população autóctone, da melhoria de condições de vida e da criação de riqueza, atenuando o sistema de subsistência de zonas rurais, trabalhando em parceria e com ligação às regiões mais desenvolvidas.
Infelizmente não houve visão política para manter ou mesmo implementar o caminho traçado com abnegação, espírito inovador e dedicação, por aqueles que vieram do ultramar e conseguiram objetivos diversos e de grande dimensão produtiva-económica com a população residente, cujo desenvolvimento foi parcialmente limitado pelo anterior regime.
Esta melhoria extraordinária não se manteve e houve um retorno progressivo ao passado, independentemente do arco governativo partidário, não planeado e não programado para o interior, quer no investimento público, quer na aplicação dos fundos comunitários, dando-se início a uma centralização acentuada em Lisboa.
Por outro lado, o envelhecimento da população, a baixa natalidade e a emigração forçada, impediram a continuidade do desenvolvimento do interior, o que se acentuou ainda mais com o excessivo investimento não planeado na rede de autoestradas.
Houve um período em que houve visão descentralizadora, mediante atribuição de funções executivas, orçamentais e decisórias às cinco Comissões de Coordenação Regionais, bem estruturadas, com sentido responsável e autonomia progressiva, caminhando para um país mais uniforme na criação e distribuição de riqueza, tornando o interior mais autónomo e reduzindo a pobreza.
Infelizmente as Comissões de Coordenação foram sucessivamente esvaziadas de poderes, com uma centralização considerável e também, aquando do referendo, os portugueses não tiveram a perceção desta medida necessária ao desenvolvimento mais homogéneo do país.
Foram décadas de esquecimento do interior, sem investimentos nas principais infraestruturas, hoje parcialmente degradadas, sem visão para criar riqueza e fixar população, causadoras da desertificação e com povoações totalmente desabitadas, a não ser provavelmente nas férias dos emigrantes. É necessário haver motivação para “empreendedorismo de iniciativa empresarial, de criatividade e de grande coragem em Bragança, em Portugal ou mesmo nesta terra global”, como afirmou recentemente o Bispo de Bragança-Miranda D. José Cordeiro.
Atualmente verifica-se um populismo não condicente à realidade do país, aliado à melhoria do défice, com atrasos apreciáveis nos financiamentos e nos pagamentos estatais. Continua a sobrecarregar-se os cidadãos com impostos, o que impede o desenvolvimento empresarial e económico das pequenas e médias empresas, conduzindo a insolvências e originando no futuro aumento da pobreza e maior desigualdade.
Não seria melhor para o país investir mais no interior e motivar jovens empreendedores, com incentivos financeiros, fiscais e de fixação familiar para rejuvenescer, recuperar o interior e retomar a natalidade?
Mas o que se tem feito nas últimas décadas é desestruturar as regiões raianas e interiores com medidas desajustadas e empobrecimento do interior, fechando os C.T.T., as sucursais da C.G.D., as Finanças, os Tribunais e alguns Hospitais. Embora havendo os avanços tecnológicos foi um erro acabar com os guardas florestais, os cantoneiros e os guarda-rios, importantes para prevenir incêndios e controlar o ambiente fluvial.
Fala-se em investimento público em período eleitoral, após acentuado constrangimento, mas quando se vai concretizar? Continua a centrar-se tudo em Lisboa e só mais recentemente no Porto, embora nesta cidade seja de destacar a visão e o implemento autárquicos.
Recentemente lançou-se o passe viário em Lisboa e no Porto, o qual depois foi extensivo a algumas outras regiões do país, sem expressão eleitoral, após alerta e debate, pois é necessário recuperar o interior e apoiar os idosos, considerando a ausência de serviços e as distâncias que têm que percorrer para solucionar problemas em organismos oficiais.
É urgente pensar-se num país menos centralizado, mais uniforme, com atenuação das desigualdades e da pobreza, que continuam a acentuar-se.
Autor: Bernardo Reis