A Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) é formada por 9 países e 270 milhões de pessoas, tendo como objetivo principal o aprofundamento da amizade mútua e de cooperação entre os seus membros nos domínios social, cultural e económico, bem como na elaboração de programas de cooperação, projetos e ações pontuais.
A XIV Reunião Ordinária do Conselho da CPLP criou o dia 5 de maio como “Dia da Língua Portuguesa e da Cultura Lusófona”, data confirmada, em novembro de 2019, pela Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
De todos os membros da CPLP, o que tem merecido maior controvérsia é, sem dúvida, a Guiné Equatorial que sendo membro desde 2014 ainda está por cumprir os pressupostos que deveriam ser exigidos antes da sua adesão. O ensino do português é muito residual e a pena de morte ainda não está formalmente abolida, continuando a distanciar-se dos valores consagrados na carta fundadora da Organização. Segundo a maior parte dos comentadores, no âmbito político, a Guiné Equatorial é “uma ditadura disfarçada em regime democrático”, por não se enquadrar em todos os parâmetros deste regime, pelo que sugerem a sua saída da Organização.
Quem devia fazer da CPLP é a Galiza. Alguns autores, apoiados na tradicional corrente científica formada por grandes filólogos e romanistas, defendem ser o galego e o português dois dialetos do mesmo idioma, pelo que preconizam o seu ingresso na CPLP.
Também o Partido Socialista da Galiza, em programas eleitorais, já defendeu a entrada na CPLP com o estatuto de observador, assumindo o “compromisso explícito e vinculativo”, de modo a “impulsionar as relações políticas e económicas com a lusofonia”. Na altura, alguns socialistas portugueses mostraram-se favoráveis à ideia, desconhecendo-se a evolução portuguesa às pretensões galegas.
O galego e o português são línguas resultantes da evolução que, na faixa ocidental da Península, teve o latim vulgar falado. Os dois dialetos tiveram vida comum, como se vê nos cancioneiros, pois os trovadores galegos e portugueses trovaram na mesma língua de então: o galaico-português.
Mas, se até meados ou fins do sec. XIV, podemos falar de um galego-português (galaico-português), devido a uma quase total identidade entre a língua de Portugal e a do Noroeste da Península (província da Galiza), a partir dessa altura quebra-se essa unidade e cada língua segue separadamente a sua evolução, com a Galiza a sofrer a influência do espanhol. De todo o modo, essa influência não apagou o parentesco com o português.
Como se vê, são mais os elementos histórico-culturais que unem Galegos e Portugueses do que aqueles que os separam. O desenvolvimento da atividade cultural e do turismo pode ajudar a uma melhor compreensão dos dois povos irmãos. Por tudo isto, a entrada da Galiza na CPLP, com pelo menos o estatuto de observadora, afigura-se-me ser um imperativo que o tempo se encarregará de cumprir.
Autor: Narciso Machado