Inaugura-se nos próximos dias uma unidade de saúde de um grupo nacional de referência no setor, que vai funcionar no antigo bloco operatório do Hospital de S. Marcos.
Dá-se mais um importante passo na recuperação integral do Complexo do Hospital de S. Marcos, que ocupa uma significativa parte do miolo do centro histórico de Braga, seis edifícios com uma área edificada de 47.117 m2, cinco recuperados desde o ano de 2011.
Em 1975, num período conturbado da democracia portuguesa, foi intervencionado pelo Estado que se comportou como um elefante numa loja de porcelana, devolvendo em 2011 os edifícios que o compõe à sua proprietária, a Misericórdia de Braga, em avançado estado de degradação, como sucedeu com o Palácio do Raio, passando o Hospital a funcionar num edifício construído de raiz.
Entendo que por regra os privados gerem melhor que o Estado, esperando-se que a recente assunção por este da gestão do Hospital de Braga, não destrua o que de bom foi feito no período da gestão privada, não sendo admissíveis baixas de qualidade, por vezes com maiores custos, competindo aos cidadãos e às autarquias uma vigilância atenta para que tal não ocorra.
O Hospital de S. Marcos tem uma ligação umbilical aos bracarenses, muitos são os que nasceram na sua maternidade e que beneficiaram dos seus cuidados na doença.
Com o sentido de responsabilidade de recuperar o seu património e dar ao centro nevrálgico da nossa urbe a merecida dignidade, a Mesa Administrativa da Irmandade não se resignou perante a adversidade e, liderada por essa personalidade de elevado mérito que é o seu Provedor, o Dr. Bernardo Reis, tratou de lançar mãos à obra, recuperando em pouco mais de 5 anos todo o património, salvo o denominado Pavilhão Sul (Ed. Santos da Cunha), de que se destaca a reabilitação do Palácio de Raio e do Edifício de Carlos Amarante, com essa fachada que é ex-librisda cidade.
O Palácio do Raio foi recuperado e aberto ao público em 2015, constituindo atualmente oCentro Interpretativo das Memórias da Misericórdia de Braga, vencendo em 2016 o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana.
O edifício que albergou parte do antigo hospital de São Marcos, sito no Largo Carlos Amarante foi reconvertido no Hotel Vila Galé Collection de Braga, inaugurado em 2018 e que ganhou o prémio de Reabilitação Urbana na 21.ª edição dos “Óscares do Imobiliário”. Saliento a dedicação que o Grupo colocou na recuperação do edifício, ao ponto de ser visto o seu presidente e proprietário, Dr. Jorge Rebelo Almeida, a trabalhar com os operários durante as obras.
O elevado investimento necessário à recuperação e ocupação do Pavilhão Sul, para onde está aprovado e licenciado desde 2014 o projeto da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e outras respostas na área social, é impensável sem o recurso a fundos europeus. Se para o Palácio do Raio foi possível obter um apoio a fundo perdido correspondente a 70% do investimento, no quadro do Portugal 2020 inexiste a possibilidade de captar fundos para este desiderato. Esquecido ficou o terceiro setor, principalmente as Misericórdias e as IPSS´s.
Se estivéssemos na capital da república, poderia invocar-se o efeito de difusão (“spill-over effect”) que viabilizou o desvio de verbas das regiões mais pobres para Lisboa. Regiões precisam-se. Mas institucionais, informais já temos. Destas existem três regiões, a região rica, a da grande Lisboa, a região remediada, a do grande Porto e a região pobre, o resto do país.
O Provedor da Misericórdia de Braga já anunciou publicamente que, considerando o elevado investimento que implicaria a instalação duma unidade de cuidados continuados no Pavilhão Sul, iria ser encontrada outra alternativa com investimento muito inferior. Sei que é ponto assente a concretização dessa unidade de continuados, provavelmente no complexo territorial em causa e que há projetos e propostas para a ocupação do pavilhão sul.
Conhecendo a determinação e a capacidade do Provedor e dos membros da Mesa, estou convicto que o desígnio da reabilitação da totalidade do complexo hospitalar de S. Marcos estará cumprido antes dos atuais órgãos sociais terminarem o mandato em 2022. E sem alienação de património local e com total cabimento do ponto de vista financeiro.
Autor: Carlos Vilas Boas