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O Homem, Deus e o nada

Quando os nossos pais, alguns familiares, amigos e conhecidos já não fazem parte fisicamente do nosso mundo, no mês de novembro de cada ano, designado também pelo mês das almas, somos impulsionados a refletir sobre o sentido último da vida e sobre afinal, o que é o Homem? Principalmente desde Aristóteles muitos pensadores e filósofos distinguem, relativamente à nossa existência, entre aquilo que pertence à essência e o que pertence à existência física. A essência ou o espírito faz parte das verdades à priori, enquanto a existência ou matéria faz parte de tudo o que é acidental ou contingente. Ou seja, é o conhecimento metafísico e o conhecimento à posteriori. Mas, o grande dilema, para além daquelas verdades, é que o Homem é um ser uno, indivisível, único e, consequentemente, misterioso. O Homem, homem e mulher, que na sua longa história do universo, com milhões de anos, tendo a consciência de que é mortal, única certeza na vida terrena, sempre praticou rituais funerários. Esta consciência da morte e os rituais funerários constituem o sinal de uma esperança que na história do mundo caracterizam, desde sempre, o Homem como não sendo um animal qualquer. Além disso, embora não fazendo parte do conhecimento humano o que é estar morto, a consciência da mortalidade arrasta-nos para a compaixão e para a básica e verdadeira consciência da fraternidade humana – “somos mortais logo somos irmãos”. A dimensão do Cristianismo, com a centralidade da palavra de Deus e de Jesus Cristo ressuscitado, é acima de tudo a esperança, a esperança na vida eterna. Os discípulos e apóstolos de Jesus Cristo que testemunharam a Sua crucificação e Ressurreição, refletiram e aprofundaram a convicção absoluta de que o mesmo Jesus Cristo não morreu para o nada. Morreu para o espaço da Vida de Deus, com o sentido do caminho e da esperança da vida plena e eterna para todos os Homens. Esta realidade consubstancia a fé na vida para além da morte, em corpo que participará do destino eterno do Homem, cuja forma e apenas a forma nos é inteligível. Na física clássica ensinava-se que num vácuo perfeito, ou seja uma zona desprovida de matéria, o atrito não pode existir porque o espaço vazio não pode exercer uma força sobre os objetos que se movimentam através dele. Muito recentemente os físicos e a ciência mostram-nos que os vácuos estão preenchidos por pequenas flutuações eletromagnéticas, aparentemente não percecionáveis, que podem interferir com atividade dentro desses vácuos e produzir uma força mensurável sobre os objetos. Estando, assim, o vazio cheio de pequenas flutuações eletromagnéticas, a física quântica revela-nos que o “nada”, como habitualmente lhe chamamos, não existe. Ora, mesmo face à realidade da matéria a ciência moderna prova-nos que, encontrada que foi uma força inesperada no vazio, o “nada”, na verdade não existe. Sendo certa a realidade que perante a morte é inexistente a nossa linguagem e, face a ela, a ciência moderna do próprio Homem encontra-se no mesmo patamar de há milhões de anos, no mês de novembro quando, habitualmente, a maioria das pessoas visita os cemitérios, os não crentes, agnósticos ou ateus que, logicamente, não considerarão aquele um lugar sagrado, só podem considerar que ali estão restos de um “amor finito” suportado por lixo biológico e ossos que a terra se encarregará de consumir. É a incompreensível “eternidade do nada” que, se é por desconhecimento, inocência ou por falta de razão Deus os absolverá, se é por convicção livremente assumida – tristeza no caminhar da evolução humana que nem a luz da ciência aproveita… É o viver o futuro desprovido do amor infinito, da alegria e da esperança. É a tristeza na escuridão do vale das trevas. É, ainda, o não distinguir o ente Homem de um animal qualquer!
Autor: Abel de Freitas Amorim
DM

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25 novembro 2017