1. O 1.º de Maio é, desde 1884, o dia do trabalhador, após as heróicas lutas (grandes manifestações e greves) por melhores condições, nos Estados Unidos, em Chicago, alastrando-se a várias outras cidades, que levariam à diminuição da jornada de trabalho – esta prolongava-se por 12, 14 e até 16 horas.
ia do trabalhador, HO DO FUTUROA evocação dos “mártires de Chicago” foi assim conservada na memória colectiva dos povos – lutas então violentamente reprimidas, até com sangue.
As relações de trabalho desenvolveram-se depois ao longo dos anos com vista a uma ordem social menos injusta, sendo, através do trabalho, que os indivíduos contribuem para a produção de riquezae o desenvolvimento económico da sociedade. Hoje as lutas são ainda contra a exploração do trabalho, baixos salários, precárias condições, precariedade do emprego, sobre-intensificação do trabalho, ou desemprego, e, ao lado, grandes empórios a auferir elevadíssimos lucros, como nunca se viu...
2. Todavia, estamosna iminência dum desafio que, não sendo novo na história, poderá tomar proporções novas de grande monta, alterando as condições e as relações de trabalho, com a crescente automação e robotização. Segundo estudos recentes, com o actual ritmo de mudança tecnológica, esta pode, num prazo de pouco mais de uma década, substituir o trabalho de 110 a 140 milhões de pessoas em todo o mundo.
Os armazéns da Amazon utilizam hoje mais de 45.000 robôs (o triplo que a empresa tinha em 2014), e relatórios há que alertam para os 47% dos empregos sob ameaça de extinção, nos Estados Unidos, ou os 62 milhões de postos de trabalho que irão ser automatizados, em 40 anos, na Europa. De facto, nesta 4.ª Revolução Industrial, poderão ser robôs programados que executarão funções repetitivas, e até mesmo tarefas completas de certas profissões, com muitos empregos a extinguirem-se.
3. Não é de estranhar que a automatização de muitas funções seja o curso natural dos avanços da tecnologia, que deste modo optimiza a produção, diminuindo custos e evitando erros. Estar na contracorrente desta mudança seria como desejar que os computadores nunca tivessem surgido para que os dactilógrafos não perdessem os seus empregos, ou que os telemóveis não tivessem sido inventados, mantendo-se os velhos telefones de mesa, que tocavam quando as antigas telefonistas transferiam chamadas, mantendo assim o emprego; ou que estivéssemos em filas nas caixas dos bancos para levantar dinheiro, em vez dos actuais multibancos, só para manter essas funções; ou, sei lá, depender de agentes de viagem para reservar voos e hotéis.
Não surpreende que seja a indústria o sector com a maior percentagem de empregos automatizáveis – onde 70% dos postos poderão ser substituídos por robôs –, seguida – em 60% – das funções na hotelaria, no transporte e no armazenamento (já parcialmente robotizadas nalguns lugares). Isso acontecerá porque a maioria das funções nesses sectores são mecânicas e repetitivas, sendo – hoje ou a prazo – facilmente executadas por máquinas; mas poderá estender-se, com a inteligência artificial, a sectores como os da saúde, da educação, da advocacia, e mesmo outras tarefas criativas e intelectuais.
4. Com a evolução da tecnologia, interrogamo-nos como será o futuro do trabalho. Pensar que humanos podem ser substituídos por robôs, ou que muitos empregos desaparecerão num futuro próximo, gera ansiedade e angústia nos profissionais; e a inteligência artificial contribuirá para tornar mais complexo o panorama. Com efeito, os gestores detêm um conhecimento valioso específico, na gestão e nos negócios, com o manancial de informações de que dispõem; contudo, os sistemas computorizados virão a deter (ou já detêm) muito mais informações e uma capacidade enorme de processamento, podendo superar a dos gestores humanos; este é apenas um exemplo.
Julgo que haverá limites: as qualidades da mentehumana não serão todas englobáveis no curso de trabalho (ou de outras tarefas), que permanecerão exclusivamente humanas– a empatia, o altruísmo, o senso prudencial da distribuição de responsabilidades, etc. Os avanços da neurociência mostram que estamos longe de compreender alguns dos mistérios do cérebro humano, entre eles, o emocionar-se, ter sentimentos, enfim, a incrível capacidade de criar e inovar.
5. Inquirindo até que ponto os robôs poderão apenas substituir ou complementar o trabalho humano, mantendo-se muitas das funções, estamos a pensar no futuro do trabalho; nesta perspectiva, os desafios são enormes, mas menos complexos que num devir em que os seres humanos tivessem de competir com robôs e autómatos: se a nova era da robótica e da inteligência artificial originar uma mudança em escala nunca antes conhecida,preponderando uma lógica de substituição, em que muitos indivíduos e grupos seriam substituídos nos respectivos postos de trabalho, a questão é a do trabalho do futuro. Assunto tão complexo merece a continuação da reflexão.
O autor não escreve segundo o denominado acordo ortográfico.
Autor: Acílio Estanqueiro Rocha