Num país de treinadores de bancada, se houvesse referendo, Fernando Santos já não seria selecionador, neste jogo com a Sérvia. Acredito até que não chegaria a iniciar esta fase de apuramento. Antes do jogo começar já a maioria do país embirrava com a constituição da equipa, questionando as opções do selecionador - Danilo em vez de Palhinha e João Moutinho em vez de Bruno Fernandes. Dizem que equipa que joga para empatar, normalmente, perde.
E aqui surge o humor de Manuel Cajuda quando num post sobre o tema, interpelado sobre se estaria a criticar Fernando Santos, afirmou que não, que se referia ao coletivo completando com tirada sui generis: “Disse muitas vezes aos meus jogadores que para perder, não precisava deles. Com quaisquer onze espectadores, seria capaz de perder”.
Verdade que esta equipa, com a qualidade individual dos selecionados tinha obrigação de ganhar, mas também alguém disse um dia que “o único desenho válido do futebol é o que se traça com a bola, nunca o que se faz com o giz” e Fernando Santos, neste jogo, riscou muito a equipa em função do adversário. No final, disse-o (por outras palavras) quando afirmou que a disposição tática dos sérvios o surpreendeu. O problema foi mesmo esse. Eles surpreenderam-nos ao mostrar que vinham jogar para ganhar. Nós não os surpreendemos (exceto no golo madrugador) ao atuar, como se quiséssemos (apenas) empatar. Foi surreal ver CR7 a mandar os colegas subir no terreno e dois laterais com propensão ofensiva, raramente passarem a linha de meio campo. A equipa aparentou estar presa num colete de forças e se Fernando Santos entendia que tal não devia acontecer, não o transmitiu com a equipa que lançou em campo, nem com as substituições feitas. Os jogadores aparentavam estar em sofrimento e, também no futebol, o que se faz em sofrimento, não se faz bem. O selecionador não pode querer que acreditem nele quando diz “empatar 0.0 ou ganhar 5.0, era a mesma coisa” no final de um jogo em que realmente, qualquer desses resultados levava a que bastasse um empate com a Sérvia. Vem nos livros e sente-se no “cheiro do balneário” que vir de um empate a zero com uma Irlanda ou de uma vitória robusta, não é, não pode ser, nem nunca será…a mesma coisa.
Agora temos o selecionador a afirmar que vai colocar os jogadores onde se sintam confortáveis. Há coisas que se podem pensar e até trabalhar sobre elas, mas nunca se devem dizer. Ou seja, perceciona-se que, até aqui, alguns jogadores estariam desconfortáveis no posto específico ou no sistema tático. Cada jogador tem de se adaptar a diferentes sistemas táticos e diferentes postos específicos (desde a formação) e depois, cabe ao selecionador analisar os custos/benefícios desse (des)conforto.
Caro selecionador, para os jogos do play off (acredito que sejam dois) sugiro uma palestra à Bill Shankly: ”Se estás na área e não sabes o que fazer com a bola, mete-a na baliza e depois discutimos as opções”. Mas para isso, não esqueça, temos de estar na área…adversária, muitas vezes.
Autor: Carlos Mangas