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Hoje em dia, as pessoas não vão ao futebol para ver um jogo; mas para ver uma vitória. É por isso que o futebol deixou de ser (apenas) desporto. Mais que desporto, o futebol tornou-se essencialmente competição.
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Se fosse apenas desporto, o importante seria participar. Como o futebol se transformou em competição, o único objectivo é vencer. Basta conferir as reacções a que nos fomos acostumando. Ninguém faz festa por participar. Só se faz festa por vencer. É normal. Será saudável?
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Se repararmos, o futebol não tem espectadores; tem adeptos. Em princípio, os espectadores vão a um espectáculo por causa de todos os que nele estão envolvidos. Pelo contrário, os adeptos vão a um jogo só por causa de uma parte dos seus intervenientes.
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Por aqui se vê como o futebol transporta, congenitamente, um certo lastro de beligerância. Se a esta predisposição acrescentarmos um forte investimento financeiro e uma enorme projecção mediática, temos pela frente um sério problema global.
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O que está a acontecer é uma consequência da dimensão que o futebol alcançou. A violência no futebol é grande porque poucos suportam perder o que no futebol há para ganhar. É cada vez maior a dificuldade em aceitar os limites e em lidar com a adversidade.
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Como é desmedida a pressão para vencer, a resposta ao insucesso é muito mais difícil de prever. Acresce que a animosidade dos adeptos não se limita às equipas adversárias, atingindo igualmente os seus próprios clubes.
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A irracionalidade e o descontrolo emocional parecem não ter fim. Preocupante já é a violência que alguns exercem sobre os outros. Como não há-de ser assustadora a violência que tantos descarregam contra os seus?
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Sucede que muita desta violência não é espontânea, o que já seria inquietante. Aflitivo é notar que muita desta violência é premeditada, dirigida e organizada. Mas é deste ambiente que emergem as claques e até alguns dos mais aplaudidos dirigentes.
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É inevitável que o futebol seja o retrato da vida e das suas pulsões mais violentas. Antes do futebol, é a vida que se mostra violenta. Se a vida está cheia de violência, como é que o futebol haveria de escapar à violência? O fundamental é não ceder à violência.
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Se não é possível impedir que o futebol se apresente como um negócio, não consintamos que ele degenere numa guerra. Há, pois, um imenso trabalho a fazer. Nos estádios, sem dúvida. Mas, desde logo, em casa. Eis o que falta. Eis o que urge!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira