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O fiel “escudeiro”

Quando nos atacarem, verão as nossas caras, e não as nossas costas (Volodimr Zelensky, Presidente da Ucrânia eleito, em 2019, com 73% dos votos).

A recusa do Partido Comunista Português (PCP) em condenar a invasão militar de Vladimir Putin (não confundir com todo o povo russo que a reprova) à Ucrânia, era expectável. Daí, a ausência do camarada Jerónimo de Sousa, inclusive os dos seus satélites, PEV e CGTP, a encabeçarem qualquer manifestação, ou cordão humano, levados a cabo em Portugal, de repúdio à agressão russa àquele país. Assim como é real o facto deste partido, dos 4%, nunca ter cortado o cordão umbilical que sempre o ligou aos líderes de russos de outrora e ao atual.

Só é inacreditável como, ainda, há quem acredite, piamente, nas boas intenções do líder russo. E só um incauto ‘cegueta’ se deixará embarcar na sua conversa e na daqueles que, por cá, tanto enchem a boca de liberdade e democracia, mas com óbvias intenções de tentarem embrulhar o país num novo PREC, como pretenderam em 1975. Sistema à base de ideais pró-soviéticos, a que tanto adorariam hoje voltar. Num percetível saudosismo dessa tentativa de implantação do marxismo-leninismo e de um capitalismo puro e duro de Estado, uma das causas do nosso atraso atual.

Para o PCP, a decisão de Putin invadir a Ucrânia mais parece ter vindo dar a esperança aos comunistas, que ainda restam na Europa, de poderem ver restabelecido o império dos Czares, ou da velha URSS. Já que o líder russo – alinhado com os de outros países à laia dele – acalenta o sonho de reedificar o antigo bloco de Leste.

Se dúvidas há, imagine-se o nosso país a ser invadido pelas tropas russas e que em vez de Kiev bombardeavam Lisboa. Elas logo se dissipariam quando víssemos o PCP virar costas à nossa capital e a dar a cara por Moscovo. O que para um Partido que tanto se gaba de ter dado cabo da ditadura em Portugal, afinal está ao lado dos novos ditadores.

A própria nomenclatura da União Europeia, tem-se deixado levar pela ala estalinista dos falsos democratas no seu hemiciclo, quando coloca em agenda questões que só destroem os valores sobre os quais se alicerçou. Fiando-se na conversa de quem está empenhado, apenas, em destruir a sua génese para, sub-repticiamente, edificar regimes de cariz totalitário e pensamento único com polícia de controle, vigilância e gulags para lá meterem os cidadãos que descarrilarem das ideias dos seus líderes.

Já o Presidente americano, Joe Baden, podia perder a mania de se portar como uma espécie de ‘sheriff’ no ‘faroeste’ – de mãos atadas – perante um duelo. É que aqui os russos são como ‘cowboys’ armados até aos dentes, enquanto os ucranianos são pobres índios munidos de arcos, flechas e pouco mais. Daí que à oferta de refúgio de Baden a Zelensky, este lhe tenha respondido: “não preciso de boleia, preciso é de munições”.

Voltando à vaca fria, por que razão não é usado o mesmo empenho que, outrora, tanto contribuiu para nos escorraçarem de África? É que, a meu ver, isto parece-me bem pior do que a nossa ocupação das ex-colónias portuguesas, porque já lá estávamos e não pensamos voltar. Apesar daquele povo descolonizado ter virado ‘joguete’ às mãos dos soviéticos e cubanos – durante 30 anos – com todos nós, portugueses, quedos, mudos e sem uma palha levantarmos nas instâncias internacionais sobre tais interferências.

Enfim, é como cidadão europeu que repudio o vil assalto russo à Ucrânia. Manifestando (antes que a guerra acabe, ou se a esta hora não tiver, já, virado tragédia) todo o meu apoio ao seu povo. Rogando a Deus o eterno descanso para as vítimas mortais. E dizer ao fiel “escudeiro” das ditaduras comunistas internacionais que a solidariedade lusitana contra a opressão aos ucranianos – desejosos de serem independentes, livres e viver em democracia (mesmo que ao som do hino ‘avante camarada Putin’) – não irá parar. Pelo que o PCP bem poderá limpar as mãos à parede e à sua submissão aos oligarcas do Kremlin.


Autor: Narciso Mendes
DM

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7 março 2022