1. O «Diário do Minho» de 16 de novembro de 2019 dedicava a página 8 a uma decisão do Município de Vieira do Minho. Titulava: «Câmara premeia Igreja de Vieira por obra feita onde o Estado falha».
Lia-se no começo da reportagem: «O presidente da Câmara Municipal e a presidente da Assembleia Municipal de Vieira do Minho enalteceram ontem o trabalho que, ao longo dos anos, tem sido desenvolvido pelo Arciprestado de Vieira do Minho em favor dos vieirenses. Os dois principais representantes políticos do Município coincidiram na tese de que as organizações da Igreja vieirense têm conseguido dar as respostas nas mais diversas áreas da atividade, quando o Estado falha na resposta às necessidades dos munícipes».
Em sinal de reconhecimento foi entregue ao arcipreste de Vieira do Minho a Medalha de Honra do Município Grau Ouro.
2.Confesso que gostei de ler a reportagem. Por isso dela faço tema na minha reflexão de hoje.
É evidente que os membros da Igreja – clérigos e leigos e não apenas aqueles – não atuam com o intuito de serem aplaudidos mas com a finalidade de colaborarem na construção de um mundo cada vez melhor e de ajudarem as pessoas, sejam elas quem forem, a resolverem os seus problemas.
São discípulos de um Mestre que recomendou discrição: «guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; «que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita» (Mateus 6, 1; 3). Mas, como seres humanos que são, gostam de ver reconhecido o seu trabalho.
3. Há quem manifeste desconhecer a verdadeira missão da Igreja, que se desenvolve em três grandes áreas: evangelização, sacramentos, caridade.
Ser cristão não consiste apenas em rezar, embora a oração diária seja indispensável. É ela que põe a funcionar o motor. Mas a grande tarefa da Igreja é contribuir para a formação de cidadãos cada vez mais conscientes e responsáveis, empenhados em melhorar o ambiente em que vivem. Agindo nele como sal, como fermento, como luz (Mateus 5, 13-16; Lucas 13, 20-21). Procurando estar no mundo sem se mundanizarem (João 17, 14-16). Conscientes de quando devem ser iguais e quando devem ser diferentes. Acreditam que a vida se prolonga para além da morte, mas sabem que se não vai para o outro lado de mãos vazias. Pode-se ir, isso sim, de mãos sujas, por tocar em tantas chagas a que é necessário dar remédio.
4. Na citada reportagem apontava-se como «caso mais visível a ação social nos Lares, nas Instituições Particulares de Solidariedade Social, nas creches e no apoio domiciliário, áreas onde a sua proximidade aos mais carenciados muito facilita a ação do poder político».
Os cristãos sabem-se cidadãos de corpo inteiro. Como os que não comungam da sua fé. Não mais, mas também não menos. Têm consciência do exercício do direito/dever de cidadania. Não lendo Marx, leem o Evangelho, e sentem-se comprometidos com a prática das obras de misericórdia.
5. É possível que a decisão do Município vieirense tenha causado embaraço a alguns setores ideológicos, ciosos do trabalho da Igreja que gostavam de remeter à inatividade. Por isso lhes custa reconhecer o seu trabalho e, em vez de o facilitarem, complicam-no. Não fazendo – se porque não querem, não sabem ou não podem, não me compete ajuizar – não desejam que outros façam. Não colaborando, como lhes compete, criam dificuldades de toda a espécie. Em vez de cooperadores transformam-se em minuciosos inspetores que só sabem fazer exigências e pôr defeitos nos trabalhos que outros fazem.
Autor: Silva Araújo