Já alguma vez o meu bom amigo Leitor parou para pensar no estado da Nação? Claro que na lufa-lufa diária não lhe sobra tempo, nem paciência para tal exercício de ponderação, de reflexividade.
Em termos políticos falar em Nação é referir um conjunto de pessoas que constituem uma sociedade autónoma, fixada num determinado território, regida por leis próprias e subordinada a um poder central; e quando-falamos em Nação não descartamos a noção de Pátria que nos reporta para o país onde nascemos, crescemos, vivemos e morremos, ou seja para a verdade dos berços e dos túmulos.
Se bem nos lembramos, ao longo da nossa longa História, muitas vezes já ouvimos ou lemos referências ou tiradas do género: A Pátria está doente; a Pátria para uns é mãe, para outros é madrasta; e estas chamadas de atenção tanto saem da boca de responsáveis políticos e politólogos, como de sociólogos e fazedores de opinião.
Pois bem, quando refletimos sobre o estado da Nação à mente nos afluem os problemas sociais e económicos que nos afligem, bem como as condições em que vivemos, a dívida pública que nos apoquenta, os maus governantes que escolhemos, as dificuldades, as injustiças, as corrupções, a sobrecarga de impostos, as fugas ao fisco, as lavagens de dinheiro, as falências fraudulentas, a queda dos bancos, a morosidade e ineficácia da Justiça, etc. etc. etc.; e esta reflexão deve fazer parte das preocupações de qualquer cidadão responsável, consciente, autónomo e independente.
Agora, analisando o estado da Nação que temos, a uma conclusão evidente chegamos: a Nação está doente, porque não temos sido capazes de transformar, após o 25 de Abril, os nossos sonhos num futuro melhor para os nossos filhos e netos; e, então, esses sonhos da nossa juventude que sempre acalentamos, hoje, quando olhamos para o país que temos e ajudamos a construir, não passam de uma tremenda desilusão.
Senão vejamos: segundo dados estatísticos, somos mais desiguais, mais pobres, menos inovadores e mais desconfiados dos homens que nos governam e das instituições que nos servem; e a descrença e demérito na democracia que temos conduz à quebra da autoestima nacional, pois a produtividade, o investimento, a eficácia da economia não abona a favor de grande maioria dos governantes, empreendedores, empresários e patrões que pouco empenho, persistência, transparência, seriedade e dedicação a princípios e valores têm mostrado.
Segundo o último Censos, estamos a caminho do inverno demográfico, pois a população portuguesa tem diminuído, sendo, no presente, de 10 344 802 habitantes, porque fruto do impulso dado pelas pessoas que vindas de fora superam as que saíram, as mortes suplantam os nascimentos e o envelhecimento do país é um dado adquirido (somos o terceiro país mais velho do mundo, atrás do Japão e da Itália); e esta triste realidade toma-se um difícil e dramático problema para a sustentabilidade da Segurança Social, acrescida do facto de que, dentro de 50 anos, se a situação se não inverter, seremos menos dois milhões de portugueses.
Depois, o empobrecimento que nos atinge, ocasionado pelo enorme endividamento, pela economia débil e pelo fraco crescimento económico, conduz a uma política de baixos salários, à não cativação dos jovens mais competentes e ambiciosos em subirem e vencerem na vida que, assim, emigram, a uma classe média empobrecida e desmotivada, a pensões de reforma miseráveis, a muita pobreza, à má qualidade dos serviços de Saúde, de Educação, de Segurança Social e da Justiça; e, deste modo, só nos resta uma Nação, uma Pátria doente.
Ora, face a este estado doentio da Nação, nas próximas eleições devemos escolher quem garanta, se possível, uma política que aponte rumos sérios e certos, trace caminhos seguros, faça as reformas estruturais do Estado, despartidarize a Administração Pública, tome medidas que favoreçam o aumento da produtividade, das exportações e do investimento nacional e estrangeiro; pois, só assim, a escolha certa dos governantes certos pode definir, nestes tempos incertos e inconsequentes, as traves mestras do futuro que ajudem a retirar a Nação do estado mórbido em que caiu.
Então, até de hoje a oito.
Autor: Dinis Salgado