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O “enjeitado”

Fortes razões me levam a dizer que só temos tido políticos de algibeira que pouco, ou nada, pensem o país. Pois se o fizessem devidamente, e sem paixões partidárias, teríamos um Portugal bem mais equilibrado não só a nível social, como harmoniosamente desenvolvido. Tê-lo-íamos, se aqueles que durante estes 46 anos de Poder Autárquico, às rédeas dos destinos das suas Autarquias, tivessem metido nas suas cabeças que são eleitos para servirem o bem público, exercendo a gestão das suas finanças de forma rigorosa e exigente, ou seja, a maquia dos impostos de todos nós.

Todavia, não tem sido essa a premissa que se vem verificando nas esferas autárquicas. Dado que qualquer edil que vença as eleições locais, sempre que alcance a maioria absoluta, faz o que bem entende. E, por vezes, sem que alguém lhe peça contas ou impeça o desbaratar de recursos financeiros que poderiam fazer a diferença em muito do que é necessário e útil nas suas terras. Prova disso, é a inúmera espécie de ‘obeliscada isaltinista’, espalhada por aí, em que foram investidas verdadeiras fortunas na sua conceção. E porquê? Porque quando a coisa dá para o torto, a ninguém são assacadas responsabilidades.

Tudo isto tem acontecido, a partir da formação de redes clientelares que, em defesa dos seus interesses económicos, se vão manifestando apoiantes do partido, ou coligação, que mais os favoreçam. Como no caso da ‘empreiteirada’, sedenta de erguer betão e cimento, que sempre acaba por se envolver com os Edis eleitos. Depois, há o urbanismo concebido em novas zonas urbanas, cuja execução e qualidade dos materiais passam ao largo do controle dos técnicos e à fiscalização das Câmaras Municipais, o que já todos sabemos por quê. Daí, que as habitações bracarenses sejam mais em conta, ainda que à custa dos ignorados defeitos estruturais em obras, entretanto, acabadas assim como ao medrar dos que com elas pactuam.

Ora, se há autarquia onde tudo isso – e muito mais – se vem manifestando é, precisamente, na de Braga. Onde, após 1976, se assistiu ao desbaratar dos dinheiros municipais, quer em regenerações e requalificações de gosto duvidoso, quer na implantação de autênticas aberrações. Aliás, prova-o a recente polémica à voltado Estádio Municipal, sobre a qual o Presidente do Clube local (SCB), António Salvador, veio a público dizer – tendo o Edil, dr. Ricardo Rio, corroborado na tese – de que aquele equipamento ‘foi construído mais para ganhar prémios, do que para servir o clube e os adeptos’.

Ora, se tais declarações tivessem sido proferidas num verdadeiro estado de direito, o caso considerar-se-ia de extrema gravidade e seria não só investigado, como pedidas satisfações ao autor, ou autores, de tal desmando. Mas não. Em vez disso, anda-se a tentar descarregar a ira sobre o monumental ‘Estádio 1.º de Maio’, inaugurado em pleno ‘Estado Novo’ e rebatizado, pós golpe de estado de 1974, apagando-se-lhe a verdade histórica.

Com efeito, seria pretensão de Salvador fazer regressar o futebol ao velhinho Estádio, só que tem esbarrado no facto de ser obrigado a preservar a autenticidade das suas caraterísticas, a fim de que não só não se perca o seu valor arquitetónico, como histórico e promocional da cidade, o que o desilude. Cheirando-me, por isso, a um terceiro Estádio a denominar-se ‘Centenário’. Isto, depois de terem sido gastos – no do Souto Moura – cerca de 150 milhões de euros, fora as astronómicas verbas despendidas na sua manutenção e processos judiciais em curso.

Enfim, ainda hoje me interrogo: ‘haverá alguém de bom senso que fique indiferente às carradas de euros despejados naquele, “enjeitado”, da Pedreira?’. Só por fanatismo futebolístico, ou ideológico, é que poderão existir pessoas a não se arrepiarem de indignação ao cantar dos números. E já dei comigo a pensar no que poderia ter sido promovido com os valores ali injetados tanto a nível social, como nas mais diversas carências da urbe e das freguesias do nosso concelho.


Autor: Narciso Mendes
DM

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24 maio 2021