twitter

O encanto falacioso da hipereducação (II)

A infância é uma época de preparação, na qual se aprende a pensar brincando e a cabeça ganha estrutura. Só depois é que se pode mobilá-la. Por isso, os pais não devem ficar nervosos porque os seus filhos não escrevem o nome aos três anos e não leem aos quatro. O próprio Einstein, que não começou a aprender a ler nem escrever antes dos oito anos, tinha isso muito claro.

A dada altura, Thomas Edison perguntou-lhe sobre a velocidade do som e Einstein respondeu: “Não sei, tento não preencher a minha memória com dados que posso encontrar em qualquer manual, já que o grande valor da educação não consiste em uma pessoa abarrotar-se com dados, mas sim em preparar o cérebro para pensar por conta própria, para dessa maneira vir a conhecer algo que não esteja nos livros.”

A obsessão pelo alto rendimento das crianças no âmbito escolar infantil fragmenta-lhes a realidade, precisamente numa idade em que elas ainda não estão preparadas para entender tal seccionamento. As divisões dos programas em várias matérias entra em conflito com a visão natural que as crianças têm do mundo porque ainda o veem como uma unidade e a plenitude da sua própria vida.     

2 – A diversidade exagerada de um conjunto de atividades extracurriculares nas crianças choca com o essencial do seu objeto de procura do saber.

No período etário precioso da infância, o mundo pelo qual a criança aspira anda à volta das pessoas queridas com quem deseja estar, brincar, imaginar e descobrir por si mesma sem grande pressa. As crianças precisam de desenhar personagens que voam, de correr  pelo campo com os irmãos ou os amigos, de imaginar aventuras ou de fazer viagens secretas.

A pressa para adiantar etapas também acontece no campo afetivo. Quando os pais têm medo que os seus filhos sejam ultrapassados pelos outros ao chegarem à maturidade, leva-os a procurar instituições (ou mesmo em sua própria casa) que lhes proporcionem todas as técnicas de hipereducação, incluindo as mais rocambolescas. Para muitos pais vale tudo, desde que acelerem nos filhos a passagem para as etapas seguintes à infância. Quantos pais caem tão facilmente no ardil falacioso da supereducação que forma falsos heróis?  Estes pais esquecem-se de que, para se conseguir uma maturidade normal dos filhos, a infância tem que ser vivida na sua plenitude. Só assim se consegue um desenvolvimento harmonioso no processo formativo das crianças.

Michael Jackson é um exemplo claro dessa formação truncada: retiraram-lhe a sua infância aos cinco anos, obrigando-o a cantar nos Jackson Five; nunca cresceu normalmente e acabou a sua vida no seu rancho, que, não por acaso, batizou como “Terra do Nunca”. Uma infância mal vivida pode dificultar gravemente a evolução para a vida adulta, criando bloqueios à maturidade e formando homens que não souberam crescer. Dan Kiley explica-o cabalmente no seu livro “A Síndrome de Peter Pan.”


Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

DM

17 agosto 2017