Não é novidade nenhuma – toda a gente sabe: a covid 19 esgotou o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Não lhe sobra tempo, recursos humanos, recursos técnicos, camas para o que quer que seja não-covid.
Também não é novidade que milhares, ou já milhões, desses outros doentes ficaram para trás (como agora se diz). Consultas, exames, cirurgias, tratamentos deixaram de se fazer. Por isso o número de mortes não-covid sobe de forma anómala. E vai continuar a subir por diagnósticos tardios e, consequentemente, tardias intervenções e tardias terapias.
Isto mesmo foi denunciado e explicitado numa célebre carta dirigida ao Presidente da República subscrita pelo actual Bastonário da Ordem dos Médicos e pelos seus cinco antecessores.
À divulgação desta carta a Ministra da Saúde reagiu de uma forma tão bizarra quanto característica da sua pessoa: sentiu-se «empurrada» para o sector privado da saúde. E pediu que não a empurrassem.
É axiomático, mesmo para o cidadão iletrado, que o recurso a hospitais privados (hoje belamente equipados) grandemente ajudaria a resolver o que está em atraso no SNS, mediante convenções e tabelas de preços e custos a negociar rapidamente entre Estado e privados e que nunca excederiam os preços e custos do próprio SNS. (Algo de semelhante ao que existe já com a A.D.S.E.). Firmadas as convenções e assinados os contratos, as enormes e diversificadas filas de espera não-covid seriam encaminhadas para o sector privado onde se começaria uma necessariamente longa actualização. Em paralelo, assim se descomprimiria a pressão sobre o serviço público.
Perante esta evidência, a Ministra sente-se «empurrada» para a óbvia solução. Porque para ela, só existe uma única solução – a solução estatal (só agora reparo na semelhança fonética entre «estatal» e «estático»).
Aqui chegados, pode-se (deve-se) perguntar: Afinal quem empurra quem? E para onde?
Quem empurra é a solução estatal, estática e única. E quem é empurrado? Os «ricos» e os «remediados» (sejam eles quem forem) são empurrados para o odiado sector privado sem convenções nem tabelas acordadas. Quanto aos «pobres», esses, são empurrados para a morte.
Repito: Afinal quem empurra quem? E para onde?
P.S. – Ao fechar desta crónica, chega-me a notícia de que (finalmente!) alguns doentes começam a ser encaminhados para hospitais privados e sociais. É uma decisão criminosamente tardia que não devolve a vida aos que, pela sua falta, já morreram. Mas que ainda vai a tempo de muitas mais vidas salvar.
Nota: Por decisão do autor este texto não obedece ao impropriamente chamado acordo ortográfico.
Autor: M. Moura Pacheco