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O direito humano a professar uma religião

A circunstância de estar prestes a ser assinalado o Dia dos Direitos Humanos, que, anualmente, a 10 de Dezembro recorda a adopção há 71 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das Nações Unidas, oferece um oportuno pretexto – como se ele fosse necessário – para que não se ignorem duas recentes chamadas de atenção. Uma surgiu, com assinalável destaque, no início da semana, veiculada por cerca de duas dezenas de meios de comunicação social integrantes do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, como, por exemplo, os diários El País, Le Monde, The Guardian, que divulgaram um conjunto de documentos secretos que atestam a perseguição que o governo chinês está a mover contra os uigures, o quarto maior grupo étnico do país. A meio da semana, a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre promoveu a #RedWednesday (Quarta-feira Vermelha), uma iniciativa que, iluminando com uma cor vermelha alguns edifícios e monumentos emblemáticos de diversos países de vários continentes (na cidade de Braga foi a Basílica dos Congregados a ter a fachada tingida de vermelho), visa manifestar solidariedade a todos os que são perseguidos e martirizados por causa da fé que professam e combater a indiferença geral perante tão dramática realidade do nosso presente.

A notícia divulgada em primeira mão pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação e a iniciativa da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre são de enorme relevância, apesar de as violações dos direitos humanos fora de portas suscitarem, de um modo geral, uma imensa e incompreensível indiferença, mesmo que selectivas excepções possam uma ou outra vez interromper esse desinteresse geral.

Contra a apatia, manifestou-se o jornal Le Monde datado de terça-feira, que, em editorial, disse que a “nova vaga de repressão orwelliana empreendida pela China deve ser denunciada com vigor”. No mesmo texto, intitulado “Quebrar o silêncio sobre o Gulag dos uigures”, que indica que pelo menos um milhão de pessoas pertencentes à minoria muçulmana uigure estão retidas em centros de detenção secretos, explica-se que a China apenas pode aspirar ao estatuto de potência mundial respeitada se renunciar “às políticas repressivas de triste memória e ao respeito pelos direitos das minorias”.

Nos campos de internamento, “um buraco negro da repressão do regime chinês contra a etnia uigure, os detidos entram sem julgamento prévio e permanecem pelo menos um ano até que termine a sua ‘transformação ideológica’”, relatava o diário El País na segunda-feira, destacando que as prisões em massa e a lavagem ao cérebro são as duas vertentes principais da repressão do Partido Comunista da China contra os uigures. Os dados citados pelo jornal relativos a uma única semana são, por si só, elucidativos: entre 19 e 25 de Junho de 2017, o Governo chinês identificou como “‘suspeitas’” de extremismo 24.412 pessoas da minoria muçulmana; 706 foram detidas criminalmente e 15.683 foram internadas em “campos de reeducação”.

A perseguição não atinge apenas os muçulmanos uigures. Também na China, os cristãos são acossados, tal como são combatidos mais ou menos violentamente em múltiplos outros pontos do globo. Em Perseguidos e esquecidos? Relatório sobre os cristãos oprimidos por causa da sua fé 2017-2019, apresentado pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre no mês passado em Portugal, refere-se que, em relação aos dois anos anteriores, a vida dos cristãos se tornou ainda mais perigosa na maioria dos países em que já eram intensamente perseguidos (a China inclui-se no grupo), registando-se uma crescente hostilidade em relação aos cristãos na Ásia e em África. Apenas em relação a dois países, a Síria e o Iraque, se pode mencionar que a situação terá melhorado um pouco, em consequência da queda do Daesh e do autoproclamado Estado islâmico. Afirma a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre que, “perante esta realidade, em que milhões de pessoas em todo o mundo não podem professar a sua fé em liberdade, pois são perseguidas, intimidadas, presas e muitas vezes mortas, impõe-se a mobilização da sociedade”. A urgência é evidente.

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A notícia divulgada em primeira mão pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação e a iniciativa da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre são de enorme relevância.


Autor: Eduardo Jorge Madureira Lopes
DM

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1 dezembro 2019