É sabido que um dos maiores perigos na condução é andar em contramão. O risco é grande e o acidente torna-se praticamente inevitável.
Mas não é só na estrada que andamos ao contrário. Também na vida parece que trocamos de itinerário.
Não me refiro tanto aos chamados «homens da noite».
Há trabalhos que têm de ser feitos de noite. E há pessoas que – palavras suas – gostam de «curtir a noite».
Preocupantes são os «comportamentos nocturnos», as atitudes sombrias, os gestos obscuros e o porte acintoso.
Segundo a Bíblia, a origem da vida é uma viagem das trevas para a luz (cf. Gén 1, 2-3).
Deus «trabalha» de noite para nela fazer surgir a luz (cf. Gén 1, 3). E à luz chama «dia» (cf. Gén 1, 5).
É por tal motivo que, na Escritura, o caminho não se faz da manhã para a tarde, mas da tarde para a manhã (cf. Gén. 1, 5).
Muito agudamente, Santo Agostinho aponta o «conhecimento da manhã» («cognitio matutina») como superior ao «conhecimento da tarde» («cognitio vespertina»).
E não é por acaso – nada é por acaso – que, para muitos filólogos, a raiz da palavra «Deus» remonta ao sânscrito «Di», que significa precisamente «luz».
Deus é luz e iluminador. O Seu Filho apresenta-Se como «luz do mundo» (Jo 8, 12). E apela aos Seus discípulos para que sejam luz para o mundo (cf. Mt 5, 14).
Daí que o momento em que nos tornamos cristãos – o Baptismo – seja também um mistério de iluminação. A vela que se acende no círio pascal como que sinaliza a passagem da luz de Jesus Cristo para o novo cristão.
É Cristo que inaugura o dia. É Cristo que traz o dia para o nosso dia.
Como afirma Santo Agostinho, Jesus é «o grande e eterno Dia, que veio inserir-se neste nosso dia temporal e tão breve».
Assim sendo, não tenhamos «comportamentos nocturnos».
Como reconhece São Paulo, nós «não somos da noite» (1Tes 1, 5). Por isso «não andemos nas trevas» (1Tes 1, 4).
Tenhamos, sim – mesmo de noite – , «comportamentos diurnos».
É que todos nós somos chamados a ser «filhos da luz e filhos do dia» (1Tes 1, 4).
Um olhar limpo, um coração puro e uma conduta transparente contagiarão de luz as – tantas vezes – opacas paisagens da nossa existência.
Iluminemos a vida, o mundo – e o Natal no mundo – com a luz santa de Belém. E que todos sejam inundados de paz e de bem!
Autor: Pe. João António Pinheiro Teixeira