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O dever moral de se vacinar

Com o número de casos diários de Covid-19 a atingir novos máximos, cresce a preocupação com o impacto social, o bem-estar daqueles que nos são mais próximos e a capacidade dos hospitais e linhas de saúde em dar resposta a tantas solicitações. Felizmente, em Portugal, a percentagem de vacinados é alta, o que tem permitido controlar sobretudo o número de casos graves. Isto é um claro sinal de que as vacinas se têm revelado seguras e eficazes, como comprovam os dados e a comunidade científica.

A variante Ómicron é ainda, pelo seu elevado grau de transmissibilidade, causa de preocupação a nível mundial. Todos os Estados têm redobrado medidas de contenção e insistindo na urgência da vacinação. O Vaticano não é excepção. Bem pelo contrário. No passado dia 23, o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, emitiu um decreto de obrigatoriedade do Green Pass (certificado de vacinação ou prova de recuperação) para todos os trabalhadores. Quem não estiver na posse deste certificado será impedido de permanecer no local de trabalho e não será remunerado.

O pessoal sem Green Pass “não poderá aceder ao local de trabalho e deverá ser considerada falta injustificada, com a consequente suspensão da retribuição pelo período de ausência”, lê-se no decreto. E quem permanecer na condição de “ausência prolongada sem justificação” poderá sofrer outras consequências. A mensagem é clara: a vacinação é obrigatória para todos. O Papa Francisco dizia anteriormente que vacinar era um “acto de amor”, mas agora, num contexto de emergência sanitária, tornou-se uma obrigação moral.

Curiosamente, é a própria moralidade / ética nas fases de investigação e produção das vacinas que tem levado alguns cristãos a recusarem a vacinação. Defendem que pelo facto de algumas vacinas utilizarem linhas celulares provenientes de fetos abortados são intrinsecamente más e, consequentemente, a vacinação é imoral.

Este argumento mereceu uma nota da Congregação para a Doutrina da Fé, bem como da Pontifícia Academia para a Vida. Sublinho as conclusões mais relevantes:

1. Existem diferentes graus de responsabilidade na utilização de células de fetos abortados destinados à investigação científica. Uma coisa são empresas que utilizam linhas celulares de origem ilícita e outra as que não têm qualquer poder de decisão;

2. Na impossibilidade de existirem vacinas eticamente inquestionáveis, é moralmente aceitável utilizar as vacinas anticovid-19 que tenham utilizado linhas celulares de fetos abortados no seu processo de investigação e produção;

3. Quem é vacinado não coopera formalmente para o aborto, do qual derivam tais células, mas também não se depreende daqui uma legitimação do aborto.

4. Do ponto de vista ético, a moralidade da vacinação depende não só da salvaguarda da própria saúde mas também do dever de zelar pelo bem comum. Dito de outro modo: vacinar é um imperativo pessoal e comunitário.

Estas são conclusões suportadas em pareceres tanto da Pontifícia Comissão para a Vida como da Comissão Covid-19 do Vaticano, pelo que podem ser consideradas referências seguras no discernimento que cada cristão faz sobre o processo de vacinação. Como diz o Santo Padre, vacinar “é um acto de amor” porque está orientado para a protecção das pessoas. E agora com a obrigatoriedade de todo o pessoal do Vaticano em se vacinar, creio que o Papa Francisco não poderia ser mais claro.


Autor: Pe. Tiago Freitas
DM

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27 dezembro 2021