Não é muito fácil inteirar-nos do que se passa no mundo, mesmo tendo meios de comunicação social livres, que não são, aparentemente, pressionados por qualquer entidade a dizer o que a ela convém, em prejuízo da verdade, que deve ser o norte que orienta quem se dedica à nobre tarefa de informar.
E estas palavras nascem do que se lê e ouve – ou vê – através das notícias, das entrevistas e, enfim, de todas as vias de que os “media” se servem para nos dar uma ideia do que acontece na realidade dos nossos dias.
Diria, com a cautela e a reserva convenientes, que somos informados sobretudo por gentes e entidades com uma nítida mentalidade reducionista e parcial. Como alguém observava: “Às vezes, ao ler uma notícia num jornal, parece que quem a escreveu anda em campanha eleitoral”.
Longe estou eu de querer defender qualquer atitude de repressão. Apenas, no plano pessoal, digo para mim mesmo que não posso nem devo aceitar sem sentido profundamente crítico aquilo que me chega através dos meios de comunicação diariamente. E isto porque é preciso discernir o que é objectivo numa peça jornalística e o que é a consequência de uma orientação da cabeça e do gosto de quem a promove.
Concretizando um pouco mais. Quando a referida mentalidade informa sobre uma situação política que pode conceder o poder a quem não se adequa ideologicamente aos seus pressupostos, trata-a de uma modo sectário, ou, se quisermos, sem procurar objectividade. Só encontra defeitos, perigos e contradições. Parece, por natureza, que os representantes da outra facção que contestam são naturalmente incompetentes e conduzirão à desgraça aquela sociedade se vencerem as eleições.
Ao noticiarem algum evento relativo a quem não tem a sua preferência, sempre carregam nas tintas do descrédito, da sensaboria, da infelicidade de propostas ou iniciativas, enfim, da insegurança e dos riscos que corre uma sociedade se se fia nas suas promessas. O contrário, porém, se se trata de quem defendem. Aqui não há nem problemas nem dúvidas. Mais. Não se alude a dificuldades ou a questões que envolvam os seus próceres quando não lhes são favoráveis. Se alguma crítica ou acusação os ataca, ela não só é injusta, como inoportuna e inadequada, tanto mais que provém daquela zona ideológica que condenam e guerreiam.
Não está em causa a liberdade de expressão, insisto, que deve ser apanágio de qualquer sociedade democrática e bem estruturada. O que se lamenta é a unilateralidade da informação. Obriga o cidadão a ter um sentido muito reservado sobre o que ela lhes fornece, porque o seu teor aparenta que não há gosto nem se busca a objectividade e, muito menos, a verdade. Dir-se-ia que uma boa parte da comunicação social pertence a um grupo ideológico que ocupou os principais postos da informação. E, do seu cimo catedrático, diz o que lhe convém para manter essa intocável supremacia.
De vez em quando, porém, engole surpresas que só não podem rejeitar, porque os factos não o permitem. Foi o caso da inesperada eleição do actual presidente dos USA, que, de acordo com as sondagens e as reportagens dos “media”, a seu tempo, era um candidato absurdo, incompetente e inqualificável. Por isso, não teria hipóteses de triunfar. E também, de certo modo, assistimos ao que se está a passar no Brasil.
O candidato indesejável, por suposto fascista e reaccionário, é capaz de ganhar, lamentavelmente, a segunda volta das eleições do próximo domingo, embora as sondagens últimas, afirmam com alegria não contida, tivessem reduzido dois pontos percentuais a sua vantagem em relação ao rival.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva