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O desporto é para os adeptos

Uma nota preliminar para congratular a conquista da Taça da Liga por parte do Sporting Clube de Braga. É com conquistas que continuaremos a trilhar o caminho da afirmação. E por falar em caminhos, é inegável a evolução que o futebol português tem registado, na última década e meia. Nas suas estruturas e competências mais profissionais. Importa nessa evolução realçar o papel coadjuvante da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga de Clubes, um papel que veio alicerçar o mérito que deve ser atribuído aos nossos clubes. Um merecimento ainda maior porque, ainda que atravessemos um período ímpar, a nível internacional, no que ao investimento no desporto (futebol na linha da frente) diz respeito, a nossa realidade continua a ser pautada pela dificuldade e reduzida dimensão. Como frisei no meu último artigo, entendo que, no fim último desta melhoria generalizada, deve estar sempre o adepto que é quem mantém esta «máquina» viva e em andamento. É ele o seu fiel depositário, por muito que a indústria se tenha direcionado ferozmente para a lógica do lucro e do imediatismo. O adepto deve ser servido em bandeja de prata, merece respeito e atenção por parte de todas as instituições intervenientes. E tem sido nessa condição de adepto que, nos últimos largos meses, acompanho o nosso clube, junto do aficionado mais fervoroso, e um pouco por todo o país, sentindo o pulso do nosso futebol de forma diferente, através de outras perspetivas, o que me tem permitido tirar conclusões que anteriormente não seriam tão fáceis de apreender. O apontamento que trago hoje para reflexão foi o que encontrei no reduto do Paços de Ferreira, no passado mês de dezembro, a contar precisamente para a Taça da Liga. Dei por mim, no meio da maravilhosa massa adepta braguista, numa das bancadas do renovado Estádio da Capital do Móvel, num mês de chuvas intensas e mau tempo, totalmente desabrigado e à mercê da inclemência típica do Inverno. Não é assim que promoveremos o nosso desporto-rei! Não é com condições pouco atrativas ou, como no caso, desprotegidas, que vamos conseguir transformar o futebol numa casa para as famílias portuguesas. Apenas os mais indefetíveis são capazes de resistir, e não é só desses que a legião deve ser composta. Temos de apontar mais alto em ambição, temos de querer chamar para o calor do desporto aqueles que preferem o cheiro próximo do espetáculo ao conforto do sofá. A emoção e a adrenalina que os jogadores sentem cria-se com a paixão do adepto que grita e aplaude, não com o telespetador de comando na mão. No entanto, se não formos capazes de garantir conforto a quem deseja percorrer o caminho que nos conduz aos estádios, ficaremos perpetuamente reféns de jornadas vazias de público e de clubes órfãos do 12.º elemento. E há tantos exemplos fantásticos um pouco por toda a Europa. Ressalvo, porém, que esta minha análise não deve servir para criticar o Paços de Ferreira e o seu louvável esforço que conduziu a melhorias num Estádio outrora muito aquém dos padrões da I Liga. Considero, isso sim, que é crucial que os Organismos que gerem o futebol em Portugal pensem estrategicamente no produto que querem oferecer, neste novo século que acaba de se iniciar. Cientes de que, sem o Adepto, não haverá nem futebol nem desporto.
Autor: João Gomes
DM

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30 janeiro 2020