Sabemos que o desporto melhora o bem-estar geral de quem o pratica, ajuda-nos a superar questões sociais mais abrangentes, e proporciona benefícios económicos consideráveis para o país, na medida em que é (pode ser) um motor de desenvolvimento (social) e geração de riqueza.
Neste contexto, e tendo em conta que é um fenómeno social e económico crescente, em praticamente todos os países do mundo, e que contribui de forma importante para os objetivos estratégicos de solidariedade e prosperidade, no caso, de Portugal, deveria ser alvo de uma atenção especial por parte de quem nos governa.
Lamentavelmente, tal não acontece, a avaliar pela ausência de investimento e de uma orientação estratégica abrangente ao papel do desporto no país. Há exemplos disto mesmo em diversos países desenvolvidos, onde as políticas no desporto são pensadas a longo prazo.
Aqui no burgo, com efeito, o valor médio gasto em Portugal, por cada cidadão, no que respeita à prática de desporto, é menos de metade do que se gasta em média na União Europeia. Repito: menos de metade!
Para o próximo ano de 2023, a despesa fixada pelo Governo para o desporto é de 44,7 milhões de euros, quando em 2019 foi de 50 milhões de euros. Valores que ilustram muito bem o que acima foi referido, reféns que estamos de visões que em nada abarcam esta importância que o desporto tem – e não falamos apenas no desporto de competição, muito menos somente do futebol. Aliás, o futebol não pode continuar a dominar o panorama desportivo no nosso país, como acontece desde sempre.
De salientar que, em 2022, o Governo definiu como prioridade a intenção de colocar Portugal no lote de 15 países com mais prática de atividade física e desportiva na União Europeia. Apesar das recomendações da ONU, nada tem sido feito para se alcançarem essas metas.
O que se tem verificado é a apresentação de medidas avulso, algumas delas sonantes, como a “estratégia integrada de apoio aos eventos desportivos internacionais”, que provavelmente consumirá uma enorme fatia do parco orçamento para o desporto, desviando-se completamente do essencial, que é predominantemente a atividade física e desportiva da população em geral.
Por fim, é de realçar o facto muito positivo do reforço do investimento no desporto por parte dos Municípios, que deverão ter mais atenção na distribuição equitativa dos recursos financeiros de que dispõem, apoiando mais as estruturas amadoras, que é onde tem lugar a grande maioria das atividades desportivas, e onde deveremos centrar as nossas atenções. Por um desporto mais inclusivo.
Autor: João Gomes
O desinvestimento no desporto

DM
22 dezembro 2022