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O desarranjo deontológico nos comportamentos de muitos profissionais

O homem, por mais conhecimentos que tenha, nunca poderá considerar-se senhor do seu mundo, nem muito menos um ser totalmente independente. Pode dominar os dossiês da sua profissão ou da sua área de formação, mas se não souber relacionar-se com os outros, a sua ação não poderá nunca ser socialmente eficaz.

Os frutos do seu trabalho ficam muito aquém do esperado, porque algo lhe falta na sua personalidade. Se a racionalidade do homem falhar, os conhecimentos e a deontologia profissional esboroam-se como um castelo de cartas ou de um dominó defeituosamente construído. Se a sua postura de verticalidade não for constante, tudo se baralha e desnorteia no dia a dia.

Quando não há lisura comportamental, nem equilíbrio racional nas decisões e nos sentimentos, o homem desvia-se facilmente do trilho correto, falhará na vida, acabando por enveredar por vias desajustadas. E, então, surgem, muitas vezes, no local de trabalho, os ambientes tensos, em que uns depreciam e maldizem o trabalho meritório dos outros.

Estas atitudes acabam por degenerar em climas conflituosos, passando-se a invejar e odiar os colegas que procuram subir na vida profissional por merecimento próprio. Perseguem-nos, diariamente, no local de trabalho, chegando a travar a sua progressão, nem que para isso tenham que “comprar” os membros dos júris que avaliam os candidatos perseguidos.

Assim, acabam por ser promovidos os menos habilitados e os menos competentes. Estas situações estão generalizadas na nossa sociedade a todos os níveis, sem excluir muitos responsáveis. Nem o ensino está imune a estes desmandos na justeza dos concursos. E então nos meios universitários, nem se fala. Lá diz a sabedoria popular: “Quem é o teu inimigo? É o oficial do teu ofício”.

O homem nunca alcançará um equilíbrio pessoal e profissional, se não souber racionalizar os seus sentimentos e as suas tendências. Quem quiser melhorar as suas relações externas tem de começar por equilibrar os seus estados interiores.

É sabido que, hoje em dia, num mundo agitado, a maioria das pessoas anda atarefada, de um lado para o outro, com a cabeça atafulhada por pensamentos desconexos que, se não tentar ajustá-los adequadamente, a sua vida descambará. No meio desta imensa confusão, tais pessoas passam o tempo a congeminar as estratégias para tramar os outros. O homem continua a ser um eterno insatisfeito quando se limita à satisfação dos seus desejos pessoais, nunca pensando nas consequência que daí possam advir.

É neste ponto que surge uma série de questões. Até que ponto conhecemos o nosso eu e as nossas faculdades? Qual será a imagem que fazemos de nós próprios? Quais os valores que nos norteiam? Qual é a nossa filosofia de vida?

É imperioso regular os nossos instintos perante estas situações. De uma reflexão racional e seletiva sairá a verdadeira filosofia de vida. Só quem for capaz de se autodominar poderá organizar uma escala de valores, para discernir corretamente o que é realmente significativo, importante e valioso. Infelizmente, perdeu-se a noção dos verdadeiros valores que se foram alterando devido à ferocidade de um progresso descontrolado e, tantas vezes, desumano.

As pessoas mostram mais apetência para a desonestidade do que para a postura vertical e honesta. Tudo isto rebaixa e adultera os valores universais e perenes que sempre guiaram o homem na sua vida na terra. Onde param os princípios da civilização ocidental?

O desleixo no cumprimento dos deveres profissionais, sociais, éticos e cívicos, o desrespeito pela lei e pela ordem social, a corrupção, a injustiça e a imoralidade parecem ter tomado o lugar do amor, da justiça e da solidariedade.


Autor: Artur Gonçalves Fernandes
DM

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23 novembro 2017