Tenho a impressão de que afirmar que estamos viver tempos complicados é já, na linguagem normal do nosso dia a dia, um lugar comum. Perante os conselhos de prudência, algumas notícias um pouco negras – embora possíveis – de que ainda vamos passar por situações mais gravosas do que a actual, o uso de máscaras bastante generalizado, enfim, todo este panorama nos faz pensar com um certo pessimismo sobre a vida, o presente e cria em nós uma incerteza e um certo desalento. Não sabemos bem o que vai suceder e o que vai ser de nós, como costuma dizer-se.
No entanto, se estas perspectivas nos devem fazer pensar, vemos com alegria que já não estamos quietos em casa, encerrados num confinamento obrigatório, com um espaço de tempo maçador, olhando uns para os outros com alguma desconfiança, pois sempre existia uma probabilidade de alguém aparecer infectado, piorando a situação que já vivíamos.
Também nos deu grande satisfação verificar que, a partir de um certo momento, os cristãos já podiam frequentar as igrejas e participar na Santa Missa, embora sujeitos, como é natural, a algumas restrições quanto ao número de pessoas, distanciamentos obrigatórios, etc. Mas não só para frequentar a Eucaristia: fazer uma visita particular ao Sacrário onde o Senhor nos espera, rezar diante de alguma imagem de Nossa Senhora ou de um santo por quem sentimos particular devoção, ou participar em algum acto de culto a que estava habituado e que teve de interromper pelas razões conhecidas.
Recordo a cara de contentamento que notei em algumas pessoas, quando, como celebrante de uma das primeiras Missas após o confinamento, tive oportunidade de distribuir a Sagrada Comunhão. Uma até veio depois à sacristia agradecer-me. Quando lhe perguntei o motivo da sua gratidão, hesitou um pouco, como que ficou sem fala, não sabendo bem o que dizer. Mas depois concordou comigo, quando lhe sugeri que déssemos muitas graças a Deus pelo que ela e eu acabávamos de viver, ao participarmos, de novo, numa Santa Missa dominical, após tanto tempo de impossibilidade.
Mas nem tudo, pelos vistos, são “rosas”, como diz o povo. Nos últimos tempos, contactei com vários sacerdotes, alguns dos quais são párocos. Eu que, durante doze anos, tive essa missão, enchia-me de júbilo quando via as Missas da paróquia bastante frequentadas. A igreja era pequena e,. por vezes, os fiéis, sobretudo em determinados horários dominicais, tinham obrigatoriamente de se sacrificar para dar lugar a todos os que pretendiam participar na Eucaristia.
Ora, esses meus colegas com quem falei nos últimos tempos, manifestaram a sua tristeza por constatarem a ausência de muita gente, tendo em conta o cuidado que puseram no arranjo sanitário da igreja, a fim de lhes dar a hipótese de cumprirem sem problemas o preceito dominical. E não os convenci quando lhes observei que estávamos em tempos de férias e de ausência de muitas famílias para outras terras. Não se convenceram. São muito compreensivos, mas conhecem bastante bem os seus paroquianos. Não estavam a fazer juízos temerários.
Senti tristeza, ao verificar que a tibieza e o comodismo, nestes dias em que todos somos chamados a ter mais intensidade de oração e de sacrifício, se apoderam com facilidade de alguns cristãos. Certamente que a doença ou algum motivo sério podem isentar um fiel de cumprir o preceito dominical que nos determina: “Ouvir Missa inteira aos domingos e Festas de Guarda”, conforme aprendi quando, em miúdo, frequentei a catequese. Não cumpri-lo por leviandade ou ligeireza de consciência é uma ofensa grave a Deus. Independentemente da participação comunitária que nos deve alegrar e estimular, recordamos que na Santa Missa o nosso Redentor, Jesus Cristo, renova o Sacrifício do Calvário, com que nos abriu as portas do Céu. Sejamos-Lhe verdadeiramente agradecidos cumprindo com esta obrigação e não nos deixemos amodorrar, ficando em casa a ver algum programa de televisão mais chamativo ou a gastar o tempo em ocupações irrelevantes (burguesmente inadiáveis), se as comparamos com a Eucaristia.
Autor: Pe. Rui Rosas da Silva